sexta-feira, 11 de agosto de 2017

O Inferno de Dante Alighieri

DANTE ALIGHIERI (1265-1321) nasceu em Florença, Itália. Seu prenome significa durante. Filho de família rica, sua educação incluiu a leitura dos grande clássicos da época: Virgílio [Públio Virgílio Marão, 70 a.C. - 19 a.C., poeta romano], Estácio [Papínio Estacio, poeta romano, 45? a.C. ? 96 a.C.], Ovídio [Publio Ovidio Naso, poeta romano, 43 a.C. ? 17/18 a.C.]. Beatriz Portinari, filha de Falco Portinari, foi o grande amor de sua vida tornando-se inspiração e principal figura da obra do poeta. Todavia, era o tempo dos casamentos arranjados e, assim, Dante com Gemma Donnati, sua prometida desde a infância. Em 1289, casou-se Beatriz, com Simon Bardi. Ao que parece, as núpcias não caíram bem na saúde da moça. Ela morreu um ano depois do casamento. Dante, naturalmente, ficou poeticamente arrasado.
Mas Dante não era somente poeta. Tinha uma vida pública muito agitada. Era muito ativo na política florentina, divida entre guelfos e gibelinos.Chegou a ocupar cargos na administração local. Mas entre as imprevisibilidades dos conflitos, em 1302, Alighieri acabou sendo exilado. Jamais voltou a Florença. A princípio, foi para Roma porém percorreu várias cidades italianas até que se estabeleceu com os filhos em Ravena, onde fica seu túmulo.
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A tumba de Dante, em Ravena Itália
Sua obra mais famosa é a Divina Comédia, cuja cronologia histórica é incerta. O livro foi concluído pouco antes da morte do autor. O nome original era apenas Comédia. O adjetivo divina foi acrescentado a partir da edição veneziana de Giolito, em 1555. A Divina Comédia relata a onírica experiência de Dante no Além. Guiado por Virgílio, o protagonista descreve as visões do Inferno ? o vale do abismo doloroso ? a melancolia do Purgatório e a glória celestial. Em sua jornada, o poeta conhece os terríveis Nove Círculos do Inferno, defrontando-se com espíritos atormentados, percorrendo as trilhas perigosas.
Toda a obra emana inspiração religiosa, doutrina religiosa. Quando finalmente chega às regiões paradisíacas, Dante é recebido por Beatriz. Reconhece e conversa com santos, aqueles que alcançaram a bem-aventurança. Por um breve momento, o reles mortal consegue vislumbrar o próprio Deus. Apesar do denso conteúdo alegórico, a Divina Comédia tem a peculiaridade de apresentar uma curiosa geografia e topografia do mundo espiritual. Enfim, A Divina Comédia pode ser considerada como uma espécie de modelo do post-mortem segundo as idéias cristãs católicas vigentes na Idade Média.
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A narrativa começa com a descrição de uma situação fantástica, como se fosse um sonho misturado com um pesadelo: Perdido numa medonha selva, Dante vaga por ela durante toda a noite. Ao amanhecer... começa a subir uma colina. Súbito, atravessam-lhe a passagem uma pantera, um leão e uma loba. [ILUSTRAÇÃO: A Divina Comédia, Canto I ? por William Blake]

Infernos

Virgílio, ídolo para Alighieri, aparece, identifica-se e prontifica-se a acompanhar o viajante extraviado por uma complexa trilha de saída, que começa no Inferno, termina no Paraíso e devolve o herói à sua vida terrena. Virgílio adverte: ...guiar-te-ei na região do eterno sofrimento. Ali, ouvindo gritos lancinantes, verás almas antigas, na amargura, suplicar segunda morte em altos brados. [ALIGHIERI, 203 ? p 11]. Os poetas puseram-se a caminho e logo chegaram a um portal que ostentava no alto o aviso macabro: Por mim se vai à cidade das dores... Abandonai toda esperança, ó vós que entrais. Ouvia-se uma confusão de falas, lamentos, gemidos, brados, de ira, de dor, de medo.
Em Dante, a porta do inferno já é um inferno. Próximo dali corre um largo rio, o Aqueronte [da mitologia grega] em cuja margem agrupam-se almas. Ajuntam-se naquela praia sem cessar. Elas esperam...Extremamente pálidas, rangem os dentes até que avistam o barco e seu barqueiro, o velho Caronte. Ele vocifera: Ai de vós, condenados! Nunca vereis o Céu! ...na outra vida, sereis encerrados para sempre no fogo e no gelo.
O Portal do Inferno fica no alto de um desfiladeiro sombrio e nebuloso. A descida é em espiral, formando plataformas concêntricas que se perdem na profundidade abissal do vale, lá embaixo. Neste PRIMEIRO CÍRCULO DO INFERNO vivem ou penam, entre suspiros, pranto e lástimas todos os que, mesmo tendo realizado boas obras não foram batizados no ritual do Cristianismo permanecendo, por causa disso, impuros pelo pecado original.
Esse Primeiro Círculo pode ser identificado com o Limbo dos cristãos-católicos. Hoje, Dante teria que excluir este primeiro círculo e seu Inferno teria, então oito, e não nove círculos. Isso porque em 2007 o Papa Bento XVI decretou o fim do limbo para os não-batizados.

O Primeiro Círculo do inferno - O LIMBO


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No LIMBO teoricamente-teologicamente padeceram, durante eternidades, os patriarcas judeus Adão, Abel, Noé, Abraão, Moisés, os reis Davi e Salomão. Essas figuras históricas, segundo Virgílio, foram resgatadas em uma única exceção ao longo das Eras. Virgílio conta:
Pouco tempo depois que cheguei a este lugar, vi descer um forte guerreiro, cingido por gloriosa coroa. Libertou as almas [dos patriarcas, profetas e reis] ... Outros mais retirou do Limbo e elevou ao Céu. Antes de Ele vir, contudo, jamais alguém fora salvo.
Porém, mesmo no Limbo não existe igualdade entre os penitentes. No círculo daqueles que morreram vergados pelo peso de culpas, mágoas, rancores ? não bastasse serem pagãos, existe uma elite, os escolhidos, poderosos e famosos da Era Pré-Cristã.
Entre estes, Dante encontrou Homero, Horácio, Ovídio e Lucano! Platão! Sócrates, Sêneca, Hipócrates, o chamado Pai da Medicina, Galeno, Avicena, Averrois. Seus rostos não mostravam alegria nem tristeza. Eles não foram resgatados pelo guerreiro coroado. [Devem estar lá até hoje!]. Apesar de tudo, esse eruditos da antiguidade tinham em seu Inferno um Grêmio Intelectual sediado em um resplandecente castelo.

O Segundo Círculo do inferno - A Luxúria

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Este pavimento é governado pelo mítico Minos, que foi rei da ilha Creta híbrido homem-touro, porque quando Zeus seduziu Europa, ele o fez na forma de um touro branco. Postado na entrada agitado e sempre furioso, ele é o Juiz das almas. Interroga uma por uma, estabelece as penas e determina em qual dos nove círculos infernais a criatura vai pagar seus pecados.
Mesmo que a alma minta, não reconheça ou confesse seus erros, de nada adianta. Minos sabe a verdade de todas as consciências; e profere a sentença: ...determina [e anuncia] a que círculo infernal ela [a alma] será enviada enrolando sua cauda: pelo número de voltas que lhe dá, sabe-se em que parte do abismo a alma se precipitará [ALIGHIERI, 2003 ? p 25].
O Segundo Círculo do Inferno de Dante é um lugar muito escuro. Ventos furiosos flagelam as almas. Ali estão os que se entregaram aos vícios da carne. Entregaram sua Vontade racional aos mais primitivos instintos. As correntes rasgantes fustigam os miseráveis como se fossem navalhas. Eles são lançados de um lado para o outro sem ter instante de paz.
Dante observa: ...semelham grous em vôo tortuoso, soltando seu grasnido. Segundo Virgílio, a título de exemplo: [Uma daquelas sombras se destacava] ... regeu nações [mas] decretou que a lascívia seria lícita e agradável, a fim de legitimar torpes práticas nas quais se excedia.
Era a rainha Semírames, de origem assíria, que reinou sobre a Pérsia, Assíria, Armênia, Arábia, Egito e toda a Ásia, durante mais de 42 anos, foi fundadora da Babilônia e de seus jardins suspensos e, segundo a lenda, introduziu o politeísmo no Oriente Médio ? WIKIPEDIA. No Segundo Círculo também padecem personagens como Helena de Tróia e seu amante Páris e Cleópatra, a rainha do Egito que foi amante de dois césares romanos.

O Terceiro Círculo do Inferno - A Glotonaria

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É um lugar pestilento onde eternas e densas chuvas negras, gélidas, pesadas caem das alturas místicas junto com granizo e neve igualmente impuros. É o domínio de Cérbero, o horrendo e feroz cão de três cabeças, olhos vermelhos e garras de dragão. O cão se ocupava em aterrorizar e estraçalhar as almas que se recompunham para serem novamente despedaçadas.
Os que se mantinham de pé, caminhavam vergados. Exaustas, vencidas, muitas almas quedavam-se, deitavam no solo imundo e, encolhidas, ali ficavam confundindo seus corpos com os relevos lodosos do chão. Virgílio lamentou: Eles esperarão assim, em sono incessante porém perturbado [até que venha] o angélico chamado, quando serão julgados pelo Onipotente. [Isso é, no mínimo, no mínimo juridicamente incoerente: a pena aplicada antes do julgamento e reaplicada depois de um já longo período de punições. Meditemos...

O Quarto Círculo do Inferno - A Avareza

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No Quarto Círculo, Plutão [o Hades grego], é sentinela do sofrimento dos Espíritos dos pródigos [perdulários, que desperdiçam, dissipam] e dos avarentos. Era uma multidão preocupada ao extremo da paranóia. Caminhavam sem rumo chocando-se uns com os outros, trocando impropérios e agressões físicas enquanto discutiam suas idéias fixas: Por quê dissipar? Porquê gastar?
Entre estes, alguns chamam a atenção porque têm os cabelos tonsurados. Virgílio explica: Aqueles desprovidos de cabelos foram papas, clérigos, cardeais, dominados pela torpe avareza... [entre estes] ...ao ressuscitar, alguns terão as mãos fechadas [paralisadas] e outros, quase nada de cabelo. Por fazer mal uso das coisas, por mal guardar, viram fechadas as portas dos Céu... Todo ouro que se acha sob o Sol não bastaria para dar repouso a uma só destas almas.

O Quinto Círculo do Inferno - A Ira

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Sempre caminhando, alcançaram o Quinto Círculo onde depararam-se com uma fonte que alimentava um riacho cujas águas escuras e ferventes iam dar em uma planície inundada, um pântano chamado Estige [mitologia grega]. Por toda parte, vagam os vultos, nus, cobertos de lodo e semblante irritado.
Flagelam-se, arrancando a pele das próprias mãos, do peito, dos pés. Também usam os dentes para dilacerar os membros. São aqueles que, em vida e ainda na morte são dominados pela ira. Mais adiante, os poetas defrontaram-se com uma torre. Do alto da torre dois fachos de luz projetavam-se na escuridão como se fossem faróis. Em outro ponto da bruma trevosa, um outra luz, pequena, movia-se rapidamente na direção dos viajantes. É a Barca de Flégias* cruzando as águas pantanosas.
* FLÉGIAS ? Filho de de Marte, deus grego das Guerras, e Crisa [Chryse, Khrýse deusa guerreira do ouro]. Rei dos Lápitas, povo da Tessália, Grécia central. Para vingar a morte da filha, Coronis, seduzida por Apolo, tentou incendiar o templo daquele deus. Por este motivo, foi precipitado no Tártaro, um lugar do inferno destinado ao suplício dos grandes criminosos.

O Sexto Circulo do Inferno - A Heresia. Dite, a Cidade de Lúcifer

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Neste ponto do relato, revela-se que as almas não têm peso assim como não têm sombra: Dante exercia seu peso sobre a embarcação, pois conservava seu corpo; já com os outros tal não ocorria [porque eram, em si mesmos, sombras]. Das repugnantes águas densas emergem, aqui e ali, desgraçados elameados que logo são capturados [de novo] por demônios que se divertem em torturar suas presas. A Barca de Flégias faz um trajeto curto: a travessia para Dite [ou Dis, em inglês], a cidade dos que choram, entrada para as regiões mais profundas do Inferno, Dite ? A Cidade de Lúcifer.
Em Dite existem muitas torres. São torres de vigia. Ali é o chamado Baixo Inferno. Suas construções são rodeadas por fossos. Os muros parecem feitos de ferro. A porta principal é guardada por mais de mil demônios. No Livro, quando estes demônios vêem Dante, ficam inquietos, agressivos e esbravejam: Quem é este que,sem ser morto, penetrou o reino dos mortos? E barraram a passagem.
Além dos demônios, a cidade de Lúcifer é ferozmente protegida pelas três Fúrias: Megera, Alecto e Tisífone. A essas junta-se uma quarta guardiã, Medusa, aquela que tem serpentes vivas no lugar dos cabelos e cujo olhar transforma os vivos em estátuas de pedra. Somente um anjo mandado por Deus pode abrir sem permissão as portas de Dite.
Dite é um teatro de arena impregnado de dor. É o cemitério dos cemitérios onde a tumba é câmara de tortura. Sua área é repleta de incontáveis túmulos: Entre os sepulcros [todos abertos] ? escreve Alighieri ? serpenteavam chamas que fustigavam ainda mais os ocupantes da covas.
Os habitantes de Dite vivem, ou apenas sofrem, em zonas separadas também estruturadas em círculos concêntricos descendentes. Quanto mais baixo o círculo, mais graves os pecados e mais severos os tormentos. O primeiro patamar abriga os vários tipos de violentos: homicidas, agressores, ladrões.
O segundo plano, é assombrado pelos suicidas em todos os sentidos: os que dissiparam as bênçãos e graças recebidas de Deus, os autodestrutivos, seja qual for o método, dos maus hábitos ao tiro na cabeça.
Na terceira zona de Dite, estão os que ofenderam diretamente a Deus, que são blasfemadores. Finalmente, no quarto e último nível, padecem os traidores, os hipócritas, os aduladores, os falsários, os mistificadores, os rufiões e os homossexuais ? todos estes, ali amargam o mais intenso remorso.

O Sétimo Círculo do Inferno - A Violência

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O Sétimo Círculo do Inferno é governado pelo MINOTAURO, o homem-touro antropófago. Do alto de trevosos penedos ele observa seus domínios. O Sétimo Círculo é composto de três áreas [recintos], terraços descendentes, cada um abrigando certo tipo de tormento para diferentes tipos de pecadores.
É curioso notar que há nestes recintos pecados punidos em Dite, a Cidade de Lúcifer, têm, no sétimo círculo outros ambientes onde também amargam suas dores pecadores de um mesmo tipo já visto em patamar superior mesmo tipo. Por exemplo: há suicidas em Dite e suicidas no Sétimo Círculo; homossexuais em Dite, sodomitas no Sétimo círculo, o mesmo ocorre com homicidas.
O Sétimo Círculo do Inferno é composto de numerosos recintos. O primeiro recinto acha-se logo na fronteira de entrada do Sétimo Inferno. Este primeiro espaço é delineado por um fosso em forma de arco por onde corre um rio de sangue fervente. Destina-se ao martírio dos grandes homicidas incluindo os déspotas genocidas de todos os tempos. Átila, o Huno, lá está.
Essa fronteira é vigiada por centauros. Entre eles, personagens famosos da mitologia grega, como Quíron, Folo e Nessus. Foi Nessus quem conduziu os poetas, Dante e Virgílio, em sua travessia naquela região.
Do rio emana o odor repugnante do sangue e os gritos de extrema agonia das almas pecadoras que tentam sair das águas horrendas; mas não podem fazê-lo pois são impedidas pelos centauros que lançam flechas certeiras nos que arriscam tentar escapar.
No Segundo Recinto do Sétimo Círculo do Inferno acham-se suicidas transformados em árvores e os dissipadores eternamente perseguidos e destroçados por cães ferozes. É a Floresta dos Suicidas, escura, tenebrosa, fechada, com seus troncos, raízes e galhos nodosos entrelaçados, ramos de onde pendem farpas venenosas.
No Terceiro Recinto do Sétimo Círculo, a paisagem muda completamente. É um deserto despido de qualquer vegetação. Seu solo de areia grossa se entende homogêneo cortado apenas por mais um riacho vermelho, este, um trecho do rio Flagetonte. Nas areias ardentes, fustigadas por um incessante chuva de fogo, almas nuas jazem no chão, entregues ao suplício; outras ficam sentadas e a maioria agita-se sem parar em inútil esforço para minimizar as dores do fogo. Este inferno escaldante é o lugar dos sodomitas.
GERIÃO ? O curso do Flagetonte precipita-se na beira de um abismo em vertiginosa queda d'água que faz um barulho ensurdecedor. Na Divina Comédia, chegando neste ponto da jornada, surge um monstro alado, nadando com asas naquele ar pastoso, que assusta Dante mas é familiar a Virgílio.
O monstro é Gerião e sobre ele Virgílio comenta: Eis o monstro de cauda pontiaguda, com a qual fura couraças, atravessa muralhas e montes e cuja peçonha envenena o mundo.
Dante descreve Gerião: O rosto e as feições, na harmonia das formas e da maciez da pele, de homem justo pareciam. De serpente em todo mais o corpo [era a forma da parte inferior do corpo]. Os braços ostentavam pelos até as axilas.
Para avançar no caminho, Dante e Virgílio têm de descer ao vale, no fundo do despenhadeiro e somente um meio de transporte está disponível: Gerião. Nas palavras de Virgílio: Pedirei que esta fera que nos faça empréstimo de suas fortes espáduas. E, assim, Gerião leva os viajantes em seu lombo multicolorido voando suavemente até o Oitavo Círculo.

O Oitavo Círculo do Inferno - A Fraude e Corrupção

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No oitavo círculo estão encarcerados os intrigantes que promovem discórdia, roubo, lenocínio [favorecimento à prostituição, os cafetões, as cafetinas, os traficantes de seres humanos], sedução, adulação, simonia [negociar com coisas sagradas, objetos ou dons, falsos ou verdadeiros], feitiçaria, corrupção política e todo o tipo de fraude.
Este oitavo círculo é chamado Malebolge ? que significa Valas do Mal. Dante descreve: É cercado de muralhas de pedra em férreo colorido na rocha escavado. No centro desse campo maldito abre-se um poço muito largo e profundo. Em meio a uma paisagem labiríntica, em torno deste poço central estão dispostas dez valas e tanto o poço quanto as valas são interligados por pontes.
Primeira Vala do 8º Círculo ? Lugar para cafetões, cafetinas e sedutores sexuais de todo tipo incluindo os gigolôs e as amantes do tipo pistoleira [que arrancam toda a grana do companheiro, companheira, arruinadores de famílias], os traficantes de seres humanos. Marcham nus, lá no fundo, os pecadores... demônios corníferos apressavam a marcha dos condenados, fustigando-os pelas costas com grandes azorragues [ALIGHIERI, 2003 ? p 77].
* AZORRAGUES: açoite, flagelo.
Segunda Vala do 8º Círculo ? É o destino dos aduladores. Muito profunda, esta vala tem o ar especialmente pestilento. É que a respiração de seus ocupantes, densa e escura, acumula no chão e nas paredes, até o topo, uma repugnante substância, uma pasta a todos eles adere: produto do condensar-se do hálito dos condenados. Enojados de si mesmos, estes miseráveis, tentando livrar-se da imundície, arrancam a própria pele, ainda que inutilmente, pois não cessam de fustigar si mesmos com as próprias mãos. Dante comenta: ...gente metida em cloaca que parecia a única latrina do mundo [ALIGUIERI, 2003 ? p 79].
Terceira Vala do 8º Círculo ? É o inferno dos Simoníacos. Dos clérigos e papas vendedores de indulgências, de lugares no Paraíso, de relíquias sagradas falsas ou verdadeiras. Esta vala é repleta de buracos, covas redondas onde os pecadores estão enfiados pela cabeça: Do pecador metido em tal vala ficava de fora a parte que vai dos pés à barriga da perna; o resto do corpo não se via. Ardiam-lhes as pontas dos pés, acesas por inteiro [ALIGHIERI, 2003 ? p 80/81]. Um ocupante famoso dessa vala é Simão, o Mago, que vendia o Espírito Santo para quem quisesse ser apóstolo de Cristo [é a origem do termo simoníaco].
Quarta Vala do 8º Círculo ? Esta é a vala dos Feiticeiros. O lugar seria mais apropriadamente designado Vala dos Feiticeiros e dos Videntes. Seus ocupantes tem o pescoço retorcido para trás: não podem olhar para a frente e este é seu castigo por pretender ver longe demais... Entre os videntes penitentes dessa vala encontra-se Tirésias, da Grécia antiga, ...que sendo homem, transformou-se em mulher...
Quinta Vala do 8º Círculo ? Para lá vão os políticos corruptos. Este recinto é uma piscina de betume fervente [pez]. Mergulhados na agonia profunda do sufocamento, do calor, estão aqueles que abusaram do poder político para cometer e encobrir todo tipo de crime. Como em todas as valas, inúmeros demônios se encarregam do rigor no cumprimento da pena, fustigando com seus lancetes qualquer um que ouse erguer qualquer parte do corpo à superfície.
Outros demônios, ainda, trazem os novos hóspedes nas costas e atiram as almas naquela vala. E os demônios gritam, porque não lhes basta infringir dores físicas mas também atormentam a mente dos condenados: Se não queres provar a agudeza do nosso ferir, não te deixes ver fora do pez. ? E zombam do pecador ? Dança lá no fundo tua dança. É ali, oculto que roubarás o que porventura puderes roubar.
Sexta Vala do 8º Círculo ? É a hospedaria dos hipócritas. Essa vala é guardada por furiosos demônios voadores de aparência tão bestial que, perdendo qualquer traço humanóide, mais se parecem e devem mesmo ser verdadeiros cães do inferno. Destes, o cão-demônio chamado Malacoda é o chefe. Guardiões desta vala, Dante identifica, nomeando, vários demônios: Calcabrina, Alichino, Cagnazzo, Barbariccia, Farfarello, Rubicante entre outros. [ALIGUIERI, 2003 ? p 91].
Na sexta vala vagam curiosas sombras em cores brilhantes. Mas choravam, caminhando a esmo, arrastando seus vultos astrais e seu rostos expressavam uma fadiga extrema. Todos usavam capa e capuz, com o qual alguns ocultam os olhos. As capas, tão luminosas por fora, por dentro eram revestidas de chumbo: E por toda eternidade tinham de conduzir o fatigante manto [ALIGUIERI, 2003 ? p 97.
Todavia, o castigo não é igual para todos. Separado, no chão, estava um infeliz por três cravos crucificado. Este é Caifás, o sumo-sacerdote do Sinédrio que conspirou até obter a condenação de Jesus à morte na Cruz. Alighieri acrescenta: Neste mesmo vale padecem o sogro [Anás] e os demais participantes do Conselho que para os judeus se tornou fonte de desgraça.
Sétima Vala do 8º Círculo ? Ali pagam suas dívidas os ladrões, os falsários dos negócios, os estelionatários. Em meio às víboras, estavam as almas completamente enredadas naqueles animais que lhes esmagavam, enforcavam, atavam-lhes mãos e pés, mordiam-nos. A picada de uma dessas serpentes faz com o corpo astral entre em auto-combustão que deixa um monte de cinzas no chão. Mas como o castigo é eterno, das cinzas a alma ressurge para continuar padecendo os horrores do ninho das cobras.
Oitava Vala do 8º Círculo ? Nesta vala, o corpo astral das almas arde em fogo eterno como ígnea vestimenta. Como longas chamas acesas em cujo interior se encontram as sombras dos falsos conselheiros.
Nona Vala do 8º Círculo ? É o lugar onde a língua paga. É a penitenciária daqueles que usaram o dom da palavra, a retórica, para induzir ou produzir o mal. Tormento dos intrigantes e do hereges que dividem a Igreja de Cristo. Nas palavras de Alighieri: Neste recinto estão os que desencadearam cismas religiosos e os que semearam o ódio e a discórdia.
Dante descreve a visão horrenda de um pecador desta vala: O corpo todo aberto se lhe via, do queixo ao reto. Entre as pernas, as entranhas; exibidos os pulmões e o feio saco onde o alimento se torna excremento. Este é Maomé [Mohammed], o profeta dos muçulmanos, fundador do Islã. Tal como Maomé, as almas que ali se encontram são perseguidas por um demônio cruel. É o Mutilador.
Décima Vala do 8º Círculo ? O último recinto que recebe falsários outros que não se enquadram nas categorias já contempladas pelo suplício eterno. A última clausura de Malebodge é o mais horrendo dos leprosários. Do poço sobe o fedor que costuma fugir dos corpos em decomposição. Chegaram então, Virgílio e Dante no poço central, cratera tenebrosa cujas grutas são ocupadas por três gigantes míticos: Nimrod [personagem bíblico cujo nome significa algo como rebelde, era neto de Noé e governou a Babilônia], Efialtos [filho de Netuno] e Anteu [filho de Gaia e Netuno]. Este último, valendo-se de tamanho, colocou os viajantes no fundo do poço, que é o Nono Círculo do Inferno.

O Nono Círculo do Inferno - A Traição

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É uma planície dividida em quatro zonas [ou recintos] chamadas: Caína, Antenora, Ptoloméia e Judeca. Um frio intenso predomina na atmosfera deste círculo onde corre o Cócito, o rio que um dia transbordou no solo pedregoso, abastece as bacias que se convertem nos recintos dos traidores. O primeiro desses recintos é Caína, um lago congelado onde os condenados ficam imersos, presos da cintura para baixo.
Em Antenora, região muito trevosa, a prisão gelada engole todo o corpo e somente as cabeças dos desgraçados ficam de fora. Em Ptoloméia, os congelados têm um sutil suplício a mais, com os rostos retorcidos para cima, suas lágrimas congelam nas órbitas tornando-os cegos para tudo à sua volta. Enfim, em Judeca, embora sensíveis, os pecadores experimentam o sepultamento completo no gelo.
Ainda neste nono e último círculo do Inferno, nas profundezas do Orco, situa-se, a masmorra de Lúcifer, Príncipe de Todo o Mal. Como imperador do reino doloroso, tem o peito erguido para fora da geleira. É maior que os gigantes. Dante observa: Se um dia foi belo quanto hoje é horrendo. O Lúcifer das visões da Comédia tem três faces: uma vermelha, uma branca-amarelada e outra morena [...a cor que amorena agente nascida e afeita à terra onde o Nilo tem seu curso ? egípcio, portanto].
Sob cada face, duas asas [que] ...mais [lembram] pela sua forma as asas dos morcegos. Continuamente agitadas, [produzem] três ventos gélidos que mantêm enregelado o Cócito. Pelos seis olhos [chora] pranto feito sangue e espuma. Em cada boca [tritura] um pecador. Na boca do meio [está] Judas Iscariotes. Em outra, Brutus [Marcus Junius Brutus, 85-42 a.C]., o traidor de Julio Cesar. Na terceira, Cassio [Gaius Cassius Longinus ? suicida, cúmplice de Brutus].

Fonte: http://www.sofadasala.com/

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