sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

O Egito: História


O Egito Antigo foi uma das maiores civilizações da Antiguidade, que surgiu a partir de aldeamentos agrícolas no vale do rio Nilo, na África, em cerca de 4000 a.C. Os antigos chamavam seu país de Kemet, que significa negro (por causa da terra).

Muitos dos ideais e crenças modernos, assim como grande parte do conhecimento sobre o homem, tiveram origem no Egito. Lá se desenvolveu o primeiro tipo de governo nacional do mundo. A religião foi uma das primeiras a enfatizar a existência da vida após a morte. Os egípcios produziram uma arte e uma literatura expressivas, introduziram a arquitetura de pedra e fabricaram o primeiro material adequado para a escrita, o papiro.

A TERRA E SUAS RIQUEZAS

Localização e Tamanho. As fronteiras do Egito antigo mudaram no decorrer da história. Quando formado, por volta de 3100 a.C., o reino do Egito ocupava apenas o fértil vale do rio Nilo no nordeste da África, numa faixa estreita que ia do Mediterrâneo à primeira catarata do rio, cobrindo uma área de cerca de 21 mil km2 - um pouco menor que o estado de Sergipe. No auge de seu poder, por volta de 1450 a.C., o Egito dominava um império que se estendia para o sul até a quarta catarata, situada na Núbia (atual Sudão), e para o nordeste até o rio Eufrates, na Ásia Ocidental.

Riquezas Naturais. O solo negro que as enchentes do Nilo deixavam a cada ano dava aos egípcios uma terra fértil. Por isso, o historiador grego Heródoto chamou o Egito de dádiva do Nilo. Os egípcios dispunham de sal, granito, arenito, cobre, manganês, turquesa, berilo, ouro, gipsita e fosfato. Não tinham florestas.

Clima. Em toda a longa história do Egito, seu clima seco pouco se modificou. Quase não havia chuvas. A irrigação da terra árida dependia das enchentes anuais de verão do rio Nilo.

POPULAÇÃO

Os historiadores acreditam que a população do Egito variou entre 1 e 8 milhões de habitantes. Na época romana, seriam cerca de 6 milhões.


Dividiam-se em quatro classes sociais: realeza e nobres; artesãos, artífices e mercadores; trabalhadores; e escravos. O exército profissional tornou-se aos poucos uma classe separada. A estrutura social não era de castas: uma pessoa pertencente à classe mais pobre podia ascender aos mais altos cargos do país.

Língua. Os antigos egípcios falavam uma língua que continha palavras do grupo de idiomas semíticos do sudoeste da Ásia e também dos idiomas cuxita e berbere do norte da África.

A escrita egípcia era composta de hieróglifos. Ela começou a ser decifrada por Jean-François Champollion, que estudou um fragmento de basalto chamado Pedra de Roseta, com inscrições em grego, demótico e hieróglifos.

Vida Familiar. Os egípcios eram um povo ligado à família. Nos primeiros tempos, o marido governava a família, mas depois a mulher conquistou posição igual.

Moradia. Os mais pobres viviam provavelmente em cabanas de barro ou de tijolos secos ao sol, cobertas com folhas de palmeira ou palha. Os ricos construíram espaçosas casas de tijolo e madeira, decoradas com mobílias luxuosas, como tapetes, arcas de ébano e vasos de cobre e de ouro.

Alimentação. A dieta comum da maioria dos egípcios consistia de pão de cevada, peixe, verduras e cerveja. Em dias de festa, saboreavam-se frutas, carne (boi, vitela, antílope e gazela) e vinho.

Vestuário. De início, os homens vestiam apenas um daiu - tanga branca de algodão ou linho. Mais tarde, passaram a usar tangas maiores, saias ou aventais. Os egípcios mais ricos acrescentavam a esse traje uma camisa transparente ou um casaco.

As mulheres egípcias usavam vestidos de alça retos e justos, que iam do peito aos tornozelos. Mais tarde, acrescentaram mantos coloridos com bainhas bordadas. Enegreciam as sobrancelhas e contornavam os olhos com um pigmento verde. Pintavam os lábios de vermelho e usavam uma tintura extraída da planta hena para colorir as unhas de amarelo ou laranja.

Vida na Cidade. Os antigos egípcios edificaram a maioria das aldeias e cidades às margens do Nilo. Mênfis, que ficava a 19 km ao sul do Cairo, foi o primeiro centro de governo egípcio. Por volta de 2100 a.C., a capital foi mudada para Tebas, a 640 km ao sul do Cairo, aí permanecendo até 1300 a.C.

Os soberanos do Egito antigo construíram imensos templos e sofisticados palácios no centro das cidades.

TRABALHO

A maioria dos antigos egípcios vivia da agricultura. Alguns trabalhavam nas minas e nas pedreiras, outros eram artífices, comerciantes ou soldados. Os agricultores egípcios aravam e semeavam os campos férteis assim que passavam as cheias do Nilo. Conseguiam duas ou três colheitas por ano. Plantavam cevada, linho e trigo. Cultivavam hortaliças, como feijão, repolho, pepino, alface e rabanete; colhiam também melões e outras frutas.

Comércio e Transporte. Os navios egípcios cruzavam todo o Mediterrâneo para fazer comércio e conquistar terras. Viajavam aos portos do Mar Egeu, à Palestina, à Fenícia, à Síria e à terra dos hititas, na Ásia. Ao sul, negociavam com os povos da costa oriental da África. Por terra, as caravanas egípcias faziam expedições ao Sudão.

Os negócios eram feitos à base de troca de mercadorias: cobre, cereais, linho, papiro e pedras de grão fino por madeiras, como o cedro, o cipreste, o abeto e o pinho do Líbano.



CULTURA E RELIGIÃO

Educação. A maioria dos meninos egípcios aprendia seu ofício com os pais ou como aprendiz nas várias profissões. Os meninos de família rica ou real eram instruídos para que se tornassem sacerdotes ou funcionários do governo.

A Religião estava sempre presente na vida do Egito antigo. Os egípcios acreditavam que deuses e deusas participavam de todas as atividades humanas, do nascimento à morte.


À medida que evoluiu, cada cidade adotou uma divindade especial. Numa parte do delta, a população adorava Hórus, o deus do céu. Em outro local, as pessoas cultuavam Osíris, o deus da vegetação, que mais tarde se tornou deus dos mortos.


Heliópolis (cidade do sol, em grego), perto do Cairo, era o centro do culto de Rá, ou Rê, o deus do sol. Entre outros membros da família divina de Rá estavam Osíris e sua mulher, Ísis; Set, o irmão maligno de Osíris, e sua mulher, Néftis; Shu, deus do ar; Tefnut, deusa da umidade; Geb, deus da terra; e Nut, deusa do céu.

A população de Tebas adorava Amon, o deus do ar e da fertilidade. Depois que Tebas foi transformada no centro político do império, Amon tornou-se a divindade principal. O povo passou a identificar Amon com o deus do sol, Rá, e assim Amon ficou conhecido como Amon-Rá.

O povo do Egito antigo dava grande importância à preparação para a vida depois da morte. Por isso, construía túmulos de pedra e os enchia de roupas, alimentos, mobília e jóias, para que fossem usados no outro mundo. Embalsamava os mortos e envolvia seus corpos com pano. Esses corpos preservados são chamados de múmias.

As Artes alcançaram pleno desenvolvimento bem cedo na história do Egito, sempre influenciadas pela religião. A literatura egípcia abrangia uma grande variedade de assuntos, de hinos a contos de fadas.

A maior realização egípcia no campo da arquitetura foram as pirâmides (monumentos). A Grande Pirâmide de Gizé possui cerca de 2,3 milhões de blocos de pedra, que pesam aproximadamente 2.300 kg cada um.

Inicialmente, as pinturas e os relevos tinham uma aparência achatada, e as estátuas pareciam quadradas. O desenvolvimento artístico, político e religioso do final do séc. XIV a.C. deu origem a um novo tipo de arte egípcia, com obras mais vivas e naturais.

Ciências. Os egípcios empregavam um sistema decimal que não tinha o zero. Multiplicavam e dividiam números inteiros, reduziam frações simples, faziam a medição de terras e eram capazes de determinar áreas e calcular o volume dos objetos.

Eles também foram também pioneiros no campo da astronomia. Sabiam distinguir os planetas das estrelas e criaram o calendário de 365 dias.



GOVERNO

Os antigos egípcios acreditavam que seu rei, o faraó, era uma divindade, e, como tal, ele era um governante absoluto. O Egito antigo sempre foi uma teocracia (forma de governo na qual pessoas que se intitulam representantes de divindades exercem o poder). O governo arrecadava um imposto pago em mercadorias e outro sob a forma de trabalho, a corvéia, que lhe fornecia soldados e mão-de-obra.

HISTÓRIA

Período Tinita (cerca de 3150 a.C. a 2700 a.C.) - I e II dinastias

A história do Egito faraônico começa com o rei Menés, responsável pela unificação entre o Alto e o Baixo Egito e pela fundação de Mênfis, a capital do Império. Interlocutor dos homens com os deuses, Menés ostenta a coroa branca do Alto Egito (hedjet) e a coroa vermelha do Baixo Egito (deshret).

Antigo Império (por volta de 2700 a.C. a 2140 a.C. ) - III e IV dinastias

Nesta época, o Estado egípcio se desenvolve consideravelmente e a sua administração centraliza-se na figura do faraó, que passa a ser venerado como verdadeiro deus. Djoser inaugura a III dinastia (cerca de 2700 a.C.). Seu conselheiro, o arquiteto Imotep, constrói a pirâmide em degraus de Saqqara, a primeira tumba real com essa forma arquitetônica.




A IV Dinastia é marcada por reinados nos quais foram construídas as três grandes pirâmides de Gizé - Queóps, Quéfren e Miquerinos. Esses complexos funerários são o símbolo de um Estado forte e de uma civilização avançada.

É na V Dinastia (aproximadamente 2480 a.C. a 2330 a.C.), originária de Heliópolis, que se verifica o culto ao Sol, o que não significa a rejeição aos outros deuses. O faraó é agora o "filho de Rá", o deus-sol.

Pepi I, representante da VI dinastia, reina por mais de 50 anos. Ele é também um grande construtor de pirâmides (Bubastis, Abydos, Dendérah). Pepi II sobe ao trono aos seis anos de idade e nele permanece por 94 anos.

Primeiro Período Intermediário (por volta de 2140 a.C. a 2040 a.C) - VII-X dinastias

Uma revolução, seguida pela invasão de povos asiáticos, põe fim à VI dinastia. Porém, nenhum nome dos reis da VII dinastia é conhecido. A VIII dinastia, a menfita, cuja capital era Mênfis, demonstra os sinais da decadência política do Egito. O país é dividido em três: o Delta, o Egito Médio - cujo centro político era Heracléopolis - e o Alto Egito, agrupado em Tebas. Inicia-se um período de anarquia e de recessão econômica (escassez de alimentos, desordem civil e violência). Uma série de conflitos ininterruptos entre as facções do sul (de Tebas) e do norte (Heracléopolis) ocorrem e cessam apenas na XI dinastia.

Médio Império
(por volta de 2040 a.C. a 1750 a.C.) - XI e XII dinastias

Mentuotep II, rei de Tebas, reunifica o Egito (aproximadamente em 2020 a.C.). Mas são os soberanos Amenemés e Sésostris (XII dinastia, por volta de 1900 a.C. a 1790 a.C.) que conduzem o Império ao seu apogeu. A expansão comercial abre-se para o mar Vermelho, mar Egeu, Fenícia, Núbia e Delta, e o país conhece a prosperidade econômica. Dessa época, há vários manuscritos literários, textos de instruções, profecias e contos.


Segundo Período Intermediário (1750 a.C. a 1560 a . C. ) - XIII-XVII dinastias

Nas XIII e XIV dinastias, o Império passa por um processo de declínio. Vulnerável e enfraquecido, sucumbe à tomada do poder por invasores estrangeiros. As XV e XVI dinastias são marcadas pelo domínio dos hicsos, chamados de reis pastores ou príncipes do deserto. O domínio estrangeiro trouxe muitas inovações técnicas para o Egito. Os hicsos introduzem a utilização do bronze, da cerâmica e dos teares, diferentes instrumentos de guerra, que incorporam o uso do cavalo e das carruagens, e estilos musicais, assim como novas raças de animais e técnicas de colheita. De certa forma, os hicsos modernizaram o Egito. Na XVII dinastia, a partir de Tebas (sul do Egito), os monarcas empreendem a reconquista do país, definitivamente concluída por Ahmose, que inaugura o Novo Império.

Novo Império (por volta de 1560 a. C. a 1070 a . C ) - XVIII-XX dinastias

Predomina na XVIII dinastia a intenção de expandir o império rumo à Ásia. O faraó Ahmose (em torno de 1560 a.C. a 1526 a.C.) organiza uma administração hierarquizada, dirigida pelo vizir, segundo homem do Estado. Sob os governos de Thutmose III (cerca de 1490 a.C. a 1436 a.C.) e Hatshepsut (1490 a.C. a 1468 a.C.), o Egito se torna uma temível potência militar. O enriquecimento do país é perceptível em todas as classes da sociedade, que aprende a gostar das artes e a ostentar o luxo. Dentre as construções da época, constam os templos funerários de Deir el-Bahari, de Luxor e de Karnak e o de Amenófis III (aproximadamente 1402 a.C. a 1364 a.C.).

O faraó Amenófis IV, ou Akhenaton, (por volta de 1364 a.C. a 1347 a.C.) transfere a capital de Tebas para Amarna. Ele impõe uma nova religião, dedicada ao culto do deus único Aton. O governante que o sucede é Tutankhamon (em torno de 1347 a.C. a 1338 a.C.), que retorna a sede do governo para Tebas, onde reincorpora o culto a Amon-Rá.

A XIX Dinastia é o período dos constantes conflitos entre egípcios e hititas. Ramsés II (em torno de 1290 a.C. a 1224 a.C.) trava, contra o rei hitita Mouwatalli, a célebre batalha de Kadesh. É a época das grandes construções, o hipostilo de Karnak, o templo de Abu-Simbel e o templo de Medinet Habu. Sob a XX dinastia (cerca de 1185 a.C. a 1070 a.C.), o país se fragmenta. O grande sacerdote de Amon, Herihor, assume o trono.

Terceiro Período Intermediário (aproximadamente de 1070 a.C. a 715 a.C.) - XXI-XXIV dinastias

Nesta época, o Egito é dividido em dinastias locais cada vez mais independentes. O único fato notável em política exterior é a conquista da Palestina por Chechanq I (945).

Período Inferior
(715-332) - XXV-XXXI dinastias

A conquista do Egito, em torno de 740 a.C., por um rei núbio, cujos sucessores instauram uma dinastia "etíope", chamada de koushita (XXV dinastia, de 715 a.C. a 664 a.C.), revela a decadência do império. Após o recuo dos etíopes para o sul, a XXVI dinastia (ou período saita, de aproximadamente 664 a.C. a 525 a.C.) é marcada pelo reinado de Psammetik I (664-610). Ele expulsa os assírios e, assim, consegue estabilizar o país. Seu sucessor, Necau, exerce a mesma política.

A XXVII Dinastia (cerca de 525 a.C. a 404 a.C.) marca o início da dinastia persa. Ela começa com a conquista do Egito por Cambises. Com a morte de Dario II, em 405 a.C., os egípcios reconquistam a sua independência. Amirteu, faraó da XXVIII dinastia, expulsa os persas. Mas a XXIX e a XXX dinastias são marcadas por brigas políticas por sucessão.

Nectânabe é o último rei nativo. Os persas realizam nova investida ao território egípcio. Tomam a capital Mênfis, após a batalha de Pelusa. É a queda do último faraó egípcio.
A segunda dominação persa (por volta de 343 a.C. a 332 a.C.), de Artaxerxes III até Dario III, parece ter sido um período difícil para os egípcios. Assim, Alexandre da Macedônia, ao derrotar Dario, é considerado um libertador do Egito. Alexandre, considerado filho de deus (e faraó), funda Alexandria no delta do Nilo (332 a.C.).

Dinastia Ptolomaica (305 a.C. a 30 a.C.)

Após a morte de Alexandre, o Grande, seus generais dividiram entre si o Império, estabelecendo o sistema de satáprias. Ao Egito coube a influência de um dos melhores generais de Alexandre, Ptolomeu, que governa entre 305 a.C. e 282 a.C. Ele constrói o farol e a biblioteca de Alexandria. A partir de Ptolomeu IV, as intrigas familiares enfraquecem a dinastia.

Em 51 a.C., o governo egípcio passa para a filha de Ptolomeu XII, Cleópatra, que é a última rainha do Egito (de 51 a.C. a 30 a. C.) Por interesses políticos, ela se casa com o imperador romano Júlio César, que coloca o Egito sob proteção de Roma. Após o assassinato de César, a rainha se casa com o general romano Marco Antonio, um dos membros do triunvirato que sucede César no poder do Império Romano, o que desperta a ira e a inveja de outras forças de Roma. Em conseqüência, Octávio se autoproclama imperador de Roma e decide invadir o Egito.

Em 30 a.C., na batalha do Ácio, os exércitos comandados por Cleópatra e Marco Antonio são derrotados pelas forças romanas. Quando Otávio, vencedor, entra em Alexandria, Cleópatra e Antonio se suicidam. O Egito torna-se província romana.


NKHESENPEPI II, A PRIMEIRA RAINHA IMORTAL DE MÊNFIS

Os Textos das Pirâmides da necrópole de Mênfis não estavam
reservados unicamente aos reis. Arqueólogos descobriram recentemente a tumba da primeira rainha que se beneficiou desse privilégio, garantia de imortalidade.

Desde 1963, sob a orientação do professor Jean Leclant, a missão arqueológica francesa de Saqqara (aldeia do Egito ao sul do Cairo, na margem oeste do Nilo), realiza pesquisas nas pirâmides sobre os textos da necrópole real de Mênfis. No fim do século passado, foram descobertos nelas, os famosos Textos das Pirâmides (Gaston Maspero), destinados a assegurar a imortalidade do rei.

Durante mais de 20 anos, de 1966 a 1988, no sul de Saqqara, a pirâmide e o templo funerário do rei Pepi I, célebre soberano da VIa dinastia (por volta de 2300 a.C.), foram escavados, estudados e restaurados.
Entrada do Grande Templo de Abu Simbel;

Os trabalhos desenrolaram-se com o seu quinhão habitual de surpresas - foram descobertos os vestígios de seis pirâmides até então totalmente desconhecidas, possibilitando a ampliação dos conhecimentos sobre a família real dos soberanos da última dinastia do Antigo Império.

Ao contrário do faraó, impedido por sua natureza divina, a rainha revelava em sua tumba os laços familiares terrestres. Por ordem de importância, ela afirma em primeiro lugar seus elos de descendência ("a mãe do rei"), em seguida seu elo matrimonial ("a esposa do rei") e, por fim, afirma eventualmente sua ascendência ("a filha do rei, de seu corpo"). Esses marcadores sociais são indispensáveis para entender a continuidade monárquica. O menor fragmento de texto relativo a uma rainha é essencial para tentar discernir melhor um encadeamento histórico.

Até a descoberta de suas pirâmides, nada se sabia sobre as tumbas das esposas de Pepi I. Os únicos elementos atribuíveis a uma rainha provinham de elementos reempregados no templo funerário do rei e referiam-se à rainha Sechséchet, mãe de Teti. Em dez campanhas de escavações, quatro esposas de Pepi I foram reveladas com as pirâmides de Inenek e Noubounet e com menções à rainha Méhaa, mãe do príncipe Horneterikhet, e a uma "filha primogênita do rei". Há também as pirâmides de duas outras rainhas de gerações posteriores, Ankhesenpepi III, uma esposa de Pepi II, e Meretités II, esposa de um rei Néferkarê. Por fim, há a menção a uma rainha Nedjefet em blocos esparsos. Resta ainda descobrir seis tumbas de rainhas.

A última campanha de escavações da missão francesa, realizada no início do ano 2000, coroou de maneira extraordinária os resultados já obtidos, com a descoberta crucial de Textos das Pirâmides na tumba da rainha-mãe Ankhesenpepi II. Esse privilégio de imortalidade, aparentemente reservado até aqui ao rei, surge pela primeira vez vinculado a uma esposa real. A personalidade da rainha Ankhesenpepi II, esposa de dois reis, mãe de um terceiro e regente do reino, uma mulher de inegável destaque nessa época, pode ter contribuído largamente para o fato.

Os Textos das Pirâmides

Descobertos em 1880 pelo egiptólogo francês Gaston Maspero, eles constituem a mais antiga compilação de preceitos religiosos da humanidade. Os textos são uma série de fórmulas mágicas destinadas a assegurar a ressurreição do soberano: o rei pode transformar-se em pássaro, estrela etc. Muitas inscrições permanecem inéditas.

Uma nova tecnologia nas escavações

A busca de um monumento mal localizado pode acarretar pesados fardos. Todo canteiro de escavações envolve consideráveis remoções de terra: na ausência de investigações prévias, muito tempo e recursos correm o risco de ser desperdiçados. Foi preciso recorrer a novos métodos geofísicos, que foram aplicados pela primeira vez na egiptologia: em 1987 a equipe do Mecenato Tecnológico de Eletricidade da França ofereceu ajuda à pesquisa, assim como o grupo da Companhia de Prospecção Geofísica Francesa. Essas equipes puderam fornecer à missão uma ajuda tecnológica a partir de importantes resultados obtidos com as várias sondagens do subsolo realizadas na época da construção de barragens. Para isso, engenheiros e arqueólogos trabalharam em conjunto, utilizando os resultados de várias tecnologias simultaneamente - eletromagnetismo, sondagens elétricas em ondas curtas, baixa freqüência e análise pelo magnetômetro de prótons das variações do campo magnético terrestre. Após uma semana de medições efetuadas no deserto, cinco locais que podiam conter estruturas de pedra, correspondendo a esquemas prováveis, foram indicados aos egiptólogos. Pouco depois, uma sondagem revelou o ângulo de uma pequena pirâmide conservada em uma altura de três andares.


Fonte

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