quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Feliz Ano Novo

A todos os leitores do Blog, desejo que a Paz, o Amor, e a Esperança estejam presentes e renovados em cada coração humano no ano que se inicia.

Nos vemos em 2018.

Rony.


domingo, 24 de dezembro de 2017

A verdadeira origem do Natal

humanidade comemora essa data desde bem antes do nascimento de Jesus. Conheça o bolo de tradições que deram origem à festa.

Roma, século 2, dia 25 de dezembro. A população está em festa, em homenagem ao nascimento daquele que veio para trazer benevolência, sabedoria e solidariedade aos homens. Cultos religiosos celebram o ícone, nessa que é a data mais sagrada do ano. Enquanto isso, as famílias apreciam os presentes trocados dias antes e se recuperam de uma longa comilança.


Mas não. Essa comemoração não é o Natal. Trata-se de uma homenagem à data de “nascimento” do deus persa Mitra, que representa a luz e, ao longo do século 2, tornou-se uma das divindades mais respeitadas entre os romanos. Qualquer semelhança com o feriado cristão, no entanto, não é mera coincidência.

A origem da data é essa, mas será que Jesus realmente nasceu no período de fim de ano? Os especialistas duvidam. "Entre os estudiosos do Novo Testamento e das origens do cristianismo, é consenso que ele não nasceu em 25 de dezembro", afirma o cientista da religião Carlos Caldas, da Universidade Mackenzie, em São Paulo. Na Bíblia, o evangelista Lucas afirma que Jesus nasceu na época de um grande recenseamento, que obrigava as pessoas a saírem do campo e irem às cidades se alistar. Só que, em dezembro, os invernos na região de Israel são rigorosos, impedindo um grande deslocamento de pessoas. "Também por causa do frio, não dá para imaginar um menino nascendo numa estrebaria. Mesmo lá dentro, o frio seria insuportável em dezembro", diz Caldas. O mais provável é que o nascimento tenha ocorrido entre março e novembro, quando o clima no Oriente Médio é mais ameno.

A história do Natal começa, na verdade, pelo menos 7 mil anos antes do nascimento de Jesus. É tão antiga quanto a civilização e tem um motivo bem prático: celebrar o solstício de inverno, a noite mais longa do ano no hemisfério norte, que acontece no final de dezembro. Dessa madrugada em diante, o sol fica cada vez mais tempo no céu, até o auge do verão. É o ponto de virada das trevas para luz: o “renascimento” do Sol. Num tempo em que o homem deixava de ser um caçador errante e começava a dominar a agricultura, a volta dos dias mais longos significava a certeza de colheitas no ano seguinte. E então era só festa. Na Mesopotâmia, a celebração durava 12 dias. Já os gregos aproveitavam o solstício para cultuar Dionísio, o deus do vinho e da vida mansa, enquanto os egípcios relembravam a passagem do deus Osíris para o mundo dos mortos. Na China, as homenagens eram (e ainda são) para o símbolo do yin-yang, que representa a harmonia da natureza. Até povos antigos da Grã-Bretanha, mais primitivos que seus contemporâneos do Oriente, comemoravam: o forrobodó era em volta de Stonehenge, monumento que começou a ser erguido em 3100 a.C. para marcar a trajetória do Sol ao longo do ano.


A comemoração em Roma, então, era só mais um reflexo de tudo isso. Cultuar Mitra, o deus da luz, no 25 de dezembro era nada mais do que festejar o velho solstício de inverno – pelo calendário atual, diferente daquele dos romanos, o fenômeno na verdade acontece no dia 20 ou 21, dependendo do ano. Seja como for, o culto a Mitra chegou à Europa lá pelo século 4 a.C., quando Alexandre, o Grande, conquistou o Oriente Médio. Centenas de anos depois, soldados romanos viraram devotos da divindade. E ela foi parar no centro do Império.

Mitra, então, ganhou uma celebração exclusiva: o Festival do Sol Invicto. Esse evento passou a fechar outra farra dedicada ao solstício. Era a Saturnália, que durava uma semana e servia para homenagear Saturno, senhor da agricultura. “O ponto inicial dessa comemoração eram os sacrifícios ao deus. Enquanto isso, dentro das casas, todos se felicitavam, comiam e trocavam presentes”, dizem os historiadores Mary Beard e John North no livro Religions of Rome (“Religiões de Roma”, sem tradução para o português). Os mais animados se entregavam a orgias – mas isso os romanos faziam o tempo todo. Bom, enquanto isso, uma religião nanica que não dava bola para essas coisas crescia em Roma: o cristianismo.

Solstício Cristão

As datas religiosas mais importantes para os primeiros seguidores de Jesus só tinham a ver com o martírio dele: a Sexta-Feira Santa (crucificação) e a Páscoa (ressurreição). O costume, afinal, era lembrar apenas a morte de personagens importantes. Líderes da Igreja achavam que não fazia sentido comemorar o nascimento de um santo ou de um mártir – já que ele só se torna uma coisa ou outra depois de morrer. Sem falar que ninguém fazia idéia da data em que Cristo veio ao mundo – o Novo Testamento não diz nada a respeito. Só que tinha uma coisa: os fiéis de Roma queriam arranjar algo para fazer frente às comemorações pelo solstício. E colocar uma celebração cristã bem nessa época viria a calhar – principalmente para os chefes da Igreja, que teriam mais facilidade em amealhar novos fiéis. Aí, em 221 d.C., o historiador cristão Sextus Julius Africanus teve a sacada: cravou o aniversário de Jesus no dia 25 de dezembro, nascimento de Mitra. A Igreja aceitou a proposta e, a partir do século 4, quando o cristianismo virou a religião oficial do Império, o Festival do Sol Invicto começou a mudar de homenageado. “Associado ao deus-sol, Jesus assumiu a forma da luz que traria a salvação para a humanidade”, diz o historiador Pedro Paulo Funari, da Unicamp. Assim, a invenção católica herdava tradições anteriores. “Ao contrário do que se pensa, os cristãos nem sempre destruíam as outras percepções de mundo como rolos compressores. Nesse caso, o que ocorreu foi uma troca cultural”, afirma outro historiador especialista em Antiguidade, André Chevitarese, da UFRJ.

Não dá para dizer ao certo como eram os primeiros Natais cristãos, mas é fato que hábitos como a troca de presentes e as refeições suntuosas permaneceram. E a coisa não parou por aí. Ao longo da Idade Média, enquanto missionários espalhavam o cristianismo pela Europa, costumes de outros povos foram entrando para a tradição natalina. A que deixou um legado mais forte foi o Yule, a festa que os nórdicos faziam em homenagem ao solstício. O presunto da ceia, a decoração toda colorida das casas e a árvore de Natal vêm de lá. Só isso.

Outra contribuição do norte foi a idéia de um ser sobrenatural que dá presentes para as criancinhas durante o Yule. Em algumas tradições escandinavas, era (e ainda é) um gnomo quem cumpre esse papel. Mas essa figura logo ganharia traços mais humanos.


Em ambos os casos, tudo que o cristianismo fez foi incorporar no seu próprio calendário de celebrações as tradições populares pré-existentes.

Os doutores da Igreja, na verdade, perceberam que os próprios cristãos manifestavam forte inclinação para aqueles festejos pagãos, e seria muito difícil desviá-los dessa tendência. Melhor seria trazer os cultos pagãos para dentro da Igreja, e dessa forma melhor controlá-los. Ficou assim estabelecido que a Natividade seria solenizada naquele dia e a Festa da Epifania no dia 6 de janeiro. Essa origem pagã da festa de Natal é reconhecida inclusive por Santo Agostinho, que exortava seus irmãos cristãos a não celebrarem o Sol naquele dia solene, como faziam os pagãos, e sim celebrarem "Aquele que tinha criado o Sol".

Essa mesma tática deu origem a muitas outras festas do calendário cristão, entre elas a Páscoa, as festas juninas, o Dia dos Mortos e o de Todos os Santos – todas elas eram festividades pagãs que foram incorporadas pela Igreja.

Ao redor do ano 1100, o Natal se tornara a festa religiosa mais importante em toda a Europa. Sua popularidade cresceu até a Reforma, quando muitos cristãos começaram a considerar o Natal uma festa pagã. Na Inglaterra e em algumas colônias americanas foi inclusive considerada manifestação fora da lei. Mas isso durou pouco. Logo o Natal reconquistou o primeiro posto entre as celebrações cristãs, sendo até hoje a festa mais amada.

No Natal, a festa cristã se entrecruza com a tradição popular de origem pagã. Antes do Natal cristão, existia a Festa do Fogo e a do Sol, pois essa época do ano é a do solstício de inverno, ou seja, o dia mais curto do ano no hemisfério norte. A partir dessa data (ao redor do dia 22 de dezembro) as horas de luz começam a ser mais longas a cada dia.

Essa inversão astronômica da rota solar constitui o cerne da questão para todo aquele que deseja compreender o real por quê da escolha de 25 de dezembro como data do nascimento do Cristo. Essa inversão trará de volta a primavera dentro de 3 meses. Quase todas as culturas antigas festejavam o evento. Todas as atividades humanas (caça, pastoreio e agricultura) eram ligadas ao fim do inverno e ao alternar-se das estações. Nos meses mais frios as pessoas permaneciam trancadas em casa, consumindo o alimento acumulando durante o ano, na esperança de que as reservas fossem suficientes. Superar a metade do inverno era, portanto, motivo de regozijo e de esperança de sobrevivência.

A festa do solstício cai no período entre 21 e 24 de dezembro por um simples motivo astronômico: nessa fase, aos olhos de um observador ou de um astrônomo, o sol parece ficar parado no horizonte, para depois inverter sua rota e retomar seu movimento em direção à primavera a partir do dia 25 de dezembro. Dessa mesma origem deriva uma importante festa da Roma Antiga, celebrada a 25 de dezembro, a festa dedicada ao deus Mitra, divindade solar muito cultuada pelos soldados e pelas populações das zonas de fronteira. A grande Festa do Sol, na mesma data, tinha a característica de integrar as religiões das diversas populações europeias sob o domínio do vasto império romano. Quase todas elas celebravam a 25 de dezembro o solstício de inverno. A festa era muito parecida às atuais celebrações do Natal cristão, com ritos coletivos e festas familiares.

Na Roma Antiga festejavam-se as Saturnálias em homenagem a Saturno, deus da agricultura. Era um período de paz e de recolhimento (meio do inverno), quando as pessoas trocavam presentes, e amigos e familiares se reuniam em suntuosos banquetes. Os celtas, outra etnia majoritária na Europa naqueles tempos, festejavam por seu lado o próprio solstício de inverno.

Nasce o Papai Noel

Ásia Menor, século 4. Três moças da cidade de Myra (onde hoje fica a Turquia) estavam na pior. O pai delas não tinha um gato para puxar pelo rabo, e as garotas só viam um jeito de sair da miséria: entrar para o ramo da prostituição. Foi então que, numa noite de inverno, um homem misterioso jogou um saquinho cheio de ouro pela janela (alguns dizem que foi pela chaminé) e sumiu. Na noite seguinte, atirou outro; depois, mais outro. Um para cada moça. Aí as meninas usaram o ouro como dotes de casamento – não dava para arranjar um bom marido na época sem pagar por isso. E viveram felizes para sempre, sem o fantasma de entrar para a vida, digamos, “profissional”. Tudo graças ao sujeito dos saquinhos. O nome dele? Papai Noel.

Bom, mais ou menos. O tal benfeitor era um homem de carne e osso conhecido como Nicolau de Myra, o bispo da cidade. Não existem registros históricos sobre a vida dele, mas lenda é o que não falta. Nicolau seria um ricaço que passou a vida dando presentes para os pobres. Histórias sobre a generosidade do bispo, como essa das moças que escaparam do bordel, ganharam status de mito. Logo atribuíram toda sorte de milagres a ele. E um século após sua morte, o bispo foi canonizado pela Igreja Católica. Virou são Nicolau.

Um santo multiuso: padroeiro das crianças, dos mercadores e dos marinheiros, que levaram sua fama de bonzinho para todos os cantos do Velho Continente. Na Rússia e na Grécia Nicolau virou o santo nº1, a Nossa Senhora Aparecida deles. No resto da Europa, a imagem benevolente do bispo de Myra se fundiu com as tradições do Natal. E ele virou o presenteador oficial da data. Na Grã-Bretanha, passaram a chamá-lo de Father Christmas (Papai Natal). Os franceses cunharam Pére Nöel, que quer dizer a mesma coisa e deu origem ao nome que usamos aqui. Na Holanda, o santo Nicolau teve o nome encurtado para Sinterklaas. E o povo dos Países Baixos levou essa versão para a colônia holandesa de Nova Amsterdã (atual Nova York) no século 17 – daí o Santa Claus que os ianques adotariam depois. Assim o Natal que a gente conhece ia ganhando o mundo, mas nem todos gostaram da idéia.

Natal fora-da-lei

Inglaterra, década de 1640. Em meio a uma sangrenta guerra civil, o rei Charles 1º digladiava com os cristãos puritanos – os filhotes mais radicais da Reforma Protestante, que dividiu o cristianismo em várias facções no século 16.

Os puritanos queriam quebrar todos os laços que outras igrejas protestantes, como a anglicana, dos nobres ingleses, ainda mantinham com o catolicismo. A idéia de comemorar o Natal, veja só, era um desses laços. Então precisava ser extirpada.

Primeiro, eles tentaram mudar o nome da data de “Christmas” (Christ’s mass, ou Missa de Cristo) para Christide (Tempo de Cristo) – já que “missa” é um termo católico. Não satisfeitos, decidiram extinguir o Natal numa canetada: em 1645, o Parlamento, de maioria puritana, proibiu as comemorações pelo nascimento de Cristo. As justificativas eram que, além de não estar mencionada na Bíblia, a festa ainda dava início a 12 dias de gula, preguiça e mais um punhado de outros pecados.

A população não quis nem saber e continuou a cair na gandaia às escondidas. Em 1649, Charles 1º foi executado e o líder do exército puritano Oliver Cromwell assumiu o poder. As intrigas sobre a comemoração se acirraram, e chegaram a pancadaria e repressões violentas. A situação, no entanto, durou pouco. Em 1658 Cromwell morreu e a restauração da monarquia trouxe a festa de volta. Mas o Natal não estava completamente a salvo. Alguns puritanos do outro lado do oceano logo proibiriam a comemoração em suas bandas. Foi na então colônia inglesa de Boston, onde festejar o 25 de dezembro virou uma prática ilegal entre 1659 e 1681. O lugar que se tornaria os EUA, afinal, tinha sido colonizado por puritanos ainda mais linha-dura que os seguidores de Cromwell. Tanto que o Natal só virou feriado nacional por lá em 1870, quando uma nova realidade já falava mais alto que cismas religiosas.

Tio Patinhas

Londres, 1846, auge da Revolução Industrial. O rico Ebenezer Scrooge passa seus Natais sozinho e quer que os pobres se explodam “para acabar com o crescimento da população”, dizia. Mas aí ele recebe a visita de 3 espíritos que representam o Natal. Eles lhe ensinam que essa é a data para esquecer diferenças sociais, abrir o coração, compartilhar riquezas. E o pão-duro se transforma num homem generoso.

Eis o enredo de Um Conto de Natal, do britânico Charles Dickens. O escritor vivia em uma Londres caótica, suja e superpopulada – o número de habitantes tinha saltado de 1 milhão para 2,3 milhões na 1a metade do século 19. Dickens, então, carregou nas tintas para evocar o Natal como um momento de redenção contra esse estresse todo, um intervalo de fraternidade em meio à competição do capitalismo industrial. Depois, inúmeros escritores seguiram a mesma linha – o nome original do Tio Patinhas, por exemplo, é Uncle Scrooge, e a primeira história do pato avarento, feita em 1947, faz paródia a Um Conto de Natal. Tudo isso, no fim das contas, consolidou a imagem do “espírito natalino” que hoje retumba na mídia. Quer dizer: quando começar o próximo especial de Natal na televisão, pode ter certeza de que o fantasma de Dickens vai estar ali.

Outra contribuição da Revolução Industrial, bem mais óbvia, foi a produção em massa. Ela turbinou a indústria dos presentes, fez nascer a publicidade natalina e acabou transformando o bispo Nicolau no garoto-propaganda mais requisitado do planeta. Até meados do século 19, a imagem mais comum dele era a de um bispo mesmo, com manto vermelho e mitra – aquele chapéu comprido que as autoridades católicas usam. Para se enquadrar nos novos tempos, então, o homem passou por uma plástica. O cirurgião foi o desenhista americano Thomas Nast, que em 1862, tirou as referências religiosas, adicionou uns quilinhos a mais, remodelou o figurino vermelho e estabeleceu a residência dele no Pólo Norte – para que o velhinho não pertencesse a país nenhum. Nascia o Papai Noel de hoje. Mas a figura do bom velhinho só bombaria mesmo no mundo todo depois de 1931, quando ele virou estrela de uma série de anúncios da Coca-Cola. A campanha foi sucesso imediato. Tão grande que, nas décadas seguintes, o gorducho se tornou a coisa mais associada ao Natal. Mais até que o verdadeiro homenageado da comemoração. Ele mesmo: o Sol.

E a onipresente árvore de Natal? Também ela pertence à tradição pagã europeia. A imagem da árvore (especialmente as que são perenemente verdes, resistentes ao inverno, como os pinheiros) constitui um tema pagão recorrente, céltico e druídico, presente tanto no mundo antigo quanto no medieval, de onde foi assimilado pelo cristianismo. A derivação do uso moderno dessas tradições, no entanto, não foi provada com certeza. Ela remonta seguramente pelo menos à Alemanha do século 16. Ingeborg Weber-Keller (professor de etnologia em Marburgo) já identificou, entre as primeiras referências históricas da tradição, uma crônica de Bremen de 1570, segundo a qual uma árvore da cidade era decorada com maçãs, nozes, tâmaras e flores de papel. A cidade de Riga, na Letônia, é uma das que se proclamam sedes da primeira árvore de Natal da história (em Riga existe inclusive uma inscrição escrita em oito línguas, segundo a qual "a primeira árvore de fim-de-ano" foi enfeitada na cidade em 1510).

Fonte: Super Interessante

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

A conexão entre o Sentimento e a Realidade

NÃO É O SEU PENSAMENTO QUE CRIA SUA REALIDADE - É O SEU SENTIMENTO!

Muito se fala em co-criação, em como você cria sua realidade através da mente, do pensamento, da intenção. Muitos falam sobre o poder de criar sua realidade utilizando afirmações positivas, visualizações, crenças, etc... Tudo isso está certo mas, temos que entender a base de tudo isso. Por que afirmações positivas materializam energia? Por que visualizar o seu sonho o materializa?

Sentimento. Sentir é a base de toda energia. O pensamento gera sentimento e o sentimento gera energia, é essa energia que materializa as coisas em sua vida. Assim como está sua energia, estará o seu entorno. Essa é a Lei.


Quando você se sente pobre, você atrai pobreza. Quando você se sente triste, você atrai mais tristeza. Quando você se sente com raiva, você atrai situações que te possibilitarão experienciar mais raiva. Mas, calma aí! Isso não quer dizer que você materializa instantaneamente o que você sentiu. As coisas, nessa dimensão física, demoram um pouco, incluindo a materialização da energia.

É por isso que muitos falam de co-criar, de tirar um tempinho do seu dia para visualizar o que você quer como já realizado. Isso é a utilização do SENTIMENTO para materialização do que você deseja em sua vida.

Quando você sente algo, você o expressa em energia. Quanto mais esse sentimento e essa energia são cultivados, mais você materializa isso. Se você cultivar o sentimento diário de que você é próspero, abundante, rico, pleno, saudável, alegre, iluminado, é isso que você materializará em sua vida.

Cultive o SENTIMENTO do que você quer materializar. Você quer atrair dinheiro? Sinta-se rico. Você quer atrair uma relação amorosa perfeita? Sinta-se amado, sinta-se fiel! Você quer atrair amizades, uma viagem, uma casa? Sinta tudo isso, sinta-se como você se sentiria com tudo isso realizado.

Utilize, para isso, a visualização. Feche os olhos, faça 15 respirações profundas e, quando terminar, de olhos fechados, visualize tudo o que você quer como já realizado, sentindo-se na situação. Sinta tudo, as sensações, os momentos, tudo. Sinta tudo já realizado. Isso é tudo.

Experimente!

Faça isso todos os dias e veja como sua vida muda.

Namastê!

Texto: Cristian Dambross

O Controle da Consciência e o poder das Trevas Inferiores

O controle das consciências

Segundo o livro "Legião" de Robson Pinheiro, os poderes das trevas inferiores estão se intensificando cada vez mais seus ataques à Luz, principalmente agora nestes finais de ciclo, pelo uso da manipulação da consciência pelos controles mentais, coisa que eu já sabia.

Essa forma de controle visa não só o controle das massas desencarnadas mas também de toda a Sociedade Humana, seus mensageiros estão proliferando esta forma de controle através da indução de ideias de cobiças no Consumismo, muitos já se afinam a estes simplesmente por seus apetites cegos do mundo físico, através da ganância, violência, egoísmo, escravidão, sexolatrias, que na verdade engordam a fileira dos desavisados.

Segundo alguns esta visão de controle é usada pelos homens de poder que estão ligados a oligarquias poderosas e internacionais, onde muitos de seus adeptos destes supostos governos secretos visam o controle de toda população humana.

Por isso acabei fazendo um pequena pesquisa sobre esta forma de controle, então vamos lá !

As Trevas Exteriores


Segundo o livro "Legião",os magos negros, espíritos milenares que usam dos seus conhecimentos para destruir e dominar (legiões Luciferianas) estão usando o pior tipo de magia negra que existe, ou seja o “controle mental“, fisicamente esta forma de domínio está também incorporada na mídia, propaganda, noticiários, revista, músicas, tendências, modas e etc. Esses tipo de insinuações hipnóticas age em nosso subconsciente, nos levando sem percebemos a aderir conceitos e vícios que não fazem partes de nós, controle estes incorporados nas modernas Mensagens Subliminares.

Mensagens Subliminares - O que é ?

O conceito de Mensagem Subliminar é muito abrangente e profundo. De acordo com a Psicologia acadêmica, mensagem subliminar é todo estímulo produzido abaixo do limiar de nossa Consciência cotidiana, onde o cérebro trabalha na famosa frequência Beta.

Existem as mensagens subliminares podem ser principalmente visuais e auditivas, porém muito se tem investido no seu uso em outros órgãos dos sentidos. Essas IMPRESSÕES energéticas entram facilmente em nosso “mundo interior“, devido a nosso lamentável estado de desatenção, falta de consciência, divagação, adormecimento coletivo etc.

Políticos, publicitários, religiosos, filósofos, militares etc., souberam usar dessa falha e manipular as mentes coletivas, usando uma linguagem não captada pelo consciente, mas sim pelo inconsciente. Também desenvolveram linguagens específicas que penetram diretamente nos níveis mais profundos da mente sem que essas mesmas mensagens sejam captadas pelo pouco de “mente discriminativa” que ainda nos resta.

Essa mensagem foi usada no filme MATRIX
O caso é que essas mesmas mensagens são utilizadas não para despertar e alimentar a consciência humana, mas para manipulá-la. No campo da Publicidade, a finalidade é fazer o indivíduo comprar este ou aquele produto, votar neste ou naquele candidato ou escolher este ou aquele canal de TV.

Os publicitários usam muita mensagem subliminar na divulgação de seus clientes, e seus produtos(alimentos, sabão em pó, bebidas, cigarros etc.).

Na sociedade

Em Roma acabou sendo criada a política “panem et circenses”, a política do pão e circo. Este método era muito simples: todos os dias havia lutas de gladiadores nos estádios (o mais famoso foi o Coliseu) e durante os eventos eram distribuídos alimentos (trigo, pão).

O objetivo era alcançado, já que ao mesmo tempo em que a população se distraia e se alimentava também esquecia os problemas e não pensava em rebelar-se. Foram feitas tantas festas para manter a população sob controle, que o calendário romano chegou a ter 175 feriados por ano. Em nossa sociedade hoje, existem corrupções em diversos setores principalmente na Política e não admira que a este exemplo citado, modernamente temos os aparelhos de TVs, que colaboram fielmente no papel dos antigos circos romanos.

Controle Intelectual

Um exemplo: a progressão continuada que é um método que visa transformar o povo em analfabetos sem estrutura cultural para reclamar da Política e ao mesmo tempo tornando o povo em mão de obra barata que as multinacionais se aproveitarão. E para que o povo não se rebele contra a forma de governo, a mídia que parece ser uma das armas dessa cúpula, disponibiliza pela televisão programas humorísticos, novelas e programas com sexualidade fácil, que visa aprisionar a mente negligentes coletivas.

O Poder nas Imagens

No desenho “Pokemon“, num episódio ocorrido no Japão há alguns anos atrás, quando uma sequência de cores emitidas em alta velocidade por um dos personagens do desenho animado Pokemon, induziu uma reação semelhante a de um ataque epilético em centenas de crianças japonesas que o assistiam pela televisão.

Oculto em músicas

Na músicas de bandas como Led Zeppelin, Beatles e outras ajudaram a construir esse mito, algumas delas são simplesmente coincidências de frases cantadas que quando invertidas geram sons que se assemelham a frases ou outras palavras, em alguns casos são criadas propositadamente pelas bandas, uma simples brincadeira, como a encontrada no primeiro disco da banda DORSAL ATLÂNTICA, que quando escutada ao contrário revela a sutil frase: “Vão tomar no…. ***, seus porcos filhos da….. *** “.

Mais em grandes casos certas objeções são lançadas propositalmente, em que nosso subconsciente capta as mensagem ou fragmento, que gravam em nosso subconsciente.

Grande parte das musicas modernas são usadas estas mensagens ocultas, até mesmo em musicas religiosas, mais na grande maioria o artista ou gravadoras, são inocentes, pois a fonte criadora age por trás dos bastidores.

No Cristianismo

Como em grande parte desta mensagens são usadas na intenção de despertar as vaidades e ambições materiais, na filosofia cristã, elas acabam por causar um grande impacto na propagação da "boa nova", que é caracterizado pelo espirito do desprendimento para a elevação espiritual do ser, pelo objetivo da caridade aos outros.

Jesus disse: que no "final dos tempos a caridade esfriaria entre muitos" se olharmos hoje a sociedade,90 % dois cristãos esta submissos as ideias de consumismo e de posses, e as verdadeiras ideias do Messias estão na verdade sendo deixadas de lado.

As pessoas estão sendo levadas a entender que Cristão são especiais ou como se auto afirmam “Ungidos de Deus” e se estão no mundo estão para vencer no plano físico através das riquezas e pela prosperidades, e muitos por esta forma de pensamento estão se tornando escravos do mundo (consumismo), induzidos por falsos lideres religiosos, como aconteceu com os Judeus, que preferindo a libertação pela força escolheram Rabí general Bar Concheba no ano 70 ao invés de Jesus (libertação pelo amor), e assim tiverem que pagar um alto preço por isso, não só com a chacina de milhares seus, como a expulsão de Jerusalém por quase 2000 anos.

Muitos estão se dedicando pela indução hipnótica e fanática á fascinação de lideres, livros sagrados, templos, músicas, conceitos de adoração exteriores em roupas, e estilos, e até mesmo a ideia da compra da salvação e enquanto isso, o amor ao próximo, a humildade e a caridade, estão sendo deixados de lado.

Infelizmente é esta realidade, e segundo alguns estudos, muitos lideres religiosos utilizam conceitos psicológicos conhecidos hoje da ciência. E esquecem que a única forma de salvação é o “amor”, o amor incondicional que ama tudo sem forçar nada a ninguém.

Fica aqui uma observação simples, em que Jesus mesmo alertou "orai e vigiai", e por estas pequenas palavras já se diz tudo, sobre o policiamento interno de cada um e a conexão com Deus, e as boas energias através das orações. Pesquisem mais, abração a todos.

Autor: Valter J.Amorim

Defenda-se de Energias Negativas

Dicas para se proteger das energias pesadas, ditas "negativas". 
Todos nós sabemos as energias negativas são uma das maiores preocupações do ser humano. Procurar fugir delas é besteira. Ela nos alcança em qualquer lugar do planeta. Mas, podemos nos defender, começando a tomar uma série de atitudes e providências. Abaixo segue seis dicas pessoais para começar a combatê-las.
1. NÃO TEMER NINGUÉM
Uma das armas mais eficazes na subjugação de um ser é impingir-lhe o medo. Sentimento capaz de uma profunda perturbação interior, vindo até a provocar verdadeiros rombos na aura, deixando o indivíduo vulnerável a todos os ataques. Temer alguém significa colocar-se em posição inferior, temer significa não acreditar em si mesmo e em seus potenciais; temer significa falta de fé.
O medo faz com que baixemos o nosso campo vibracional, tornando-nos assim vulneráveis às forças externas. Sentir medo de alguém é dar um atestado de que ele é mais forte e poderoso. Quanto mais você der força ao opressor, mais ele se fortalecerá.
2. NÃO SINTA CULPA
Assim como o medo, a culpa é um dos piores estados de espírito que existem. Ela altera nosso campo vibracional, deixando nossa aura (campo de força) vulnerável ao agressor. A culpa enfraquece nosso sistema imunológico e fecha os caminhos para a prosperidade. Um dos maiores recursos utilizados pelos invejosos é fazer com que nos sintamos culpados pelas nossas conquistas. Não faça o jogo deles e saiba que o seu sucesso é merecido. Sustente as suas vitórias sempre!
3. ADOTE UMA POSTURA ATIVA
Nem sempre adotar uma postura defensiva é o melhor negócio. Enfrente a situação. Lembre-se sempre do exemplo do cachorro: quem tem medo do animal e sai correndo, fatalmente será perseguido e mordido. Já quem mantém a calma e contorna a situação pode sair ileso. Em vez de pensar que alguém pode influenciá-lo negativamente, por que não se adiantar e influenciá-lo beneficamente? Ou será que o mal dele é mais forte que o seu bem? Por que será que nós sempre nos colocamos numa atitude passiva de vítimas? Antes que o outro o alcance com sua maldade, atinja-o antecipadamente com muita luz e pensamentos de paz, compaixão e amor.
4. FIQUE SEMPRE DO SEU LADO
A maior causa dos problemas de relacionamentos humanos é a "Auto-Obsessão".
A influência negativa de uma pessoa sobre outra sempre existirá enquanto houver uma idéia de dominação, de desigualdade humana, enquanto um se achar mais e outro menos, enquanto nossas relações não forem pautadas pelo respeito mútuo. Mas grande parte dos problemas existe porque não nos relacionamos bem com nós mesmos.
"Auto-Obsessão" significa não se gostar, não se apoiar, se autoboicotar, se desvalorizar, não satisfazer suas necessidades pessoais e dar força ao outro, permitindo que ele influencie sua vida, achar que os outros merecem mais do que nós. Auto-obsediar-se é não ouvir a voz da nossa alma, é dar mais valor à opinião dos outros.
Os que enveredam por esse caminho acabam perdendo sua força pessoal e abrem as portas para toda sorte de pessoas dominadoras e energias de baixo nível. A força interior é nossa maior defesa.
5. SUBA PARA POSIÇÕES ELEVADAS
As flechas não alcançam o céu. Coloque-se sempre em posições elevadas com bons pensamentos, palavras, ações e sentimentos nobres e maduros.
Uma atmosfera de pensamentos e sentimentos de alto nível faz com que as energias do mal, que têm pequeno alcance, não o atinjam. Essa é a melhor forma de criar "incompatibilidade" com as forças do mal. Lembrem-se: energias incompatíveis não se misturam.
6. FECHE-SE ÀS INFLUÊNCIAS NEGATIVAS
As vias de acesso pelas quais as influências negativas podem entrar em nosso campo são as portas que levam à nossa alma, ou seja, a mente e o coração. Mantenha ambos sempre resguardados das energias dos maus pensamentos e sentimentos, e fuja das conversas negativas, maldosas e depressivas.
Evite lugares densos e de baixo nível. Quando não puder ajudar, afaste-se de pessoas que não lhe acrescentam nada e só o puxam para o lado negativo da vida. O mesmo vale para as leituras, programas de televisão, filmes, músicas e passatempos de baixo nível.

Fonte: Saindo da Matrix

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Ahuizotl: O monstro comedor de gente


O mito em torno do Ahuízotl afirma que essa criatura teria a forma de um cão, pêlo curto, orelhas pontudas, um corpo liso e uma cauda negra, de cuja ponta sai uma mão semelhante à humana. Algumas versões da lenda afirmam que a criatura seria pequena (do tamanho de um cão), mas muitas representações do estranho ser o mostram como uma criatura muito grande.
Temido por pescadores, o Ahuízotl era conhecido por seu apetite voraz e pelo seu apreço por carne humana, mostrando um carinho especial para as chamadas "partes crocantes", tais como as unhas e dentes. O animal também era conhecido por deliciar-se com a delicadeza do globo ocular humano.

Segundo o padre e historiador Ángel María Garibay, o nome é formado or a(tl), "água"; huiz(tli), "espinho" (os pelos molhados lembrariam espinhos quando o animal sai da água e se sacode); e (y)otl, "semelhante". O tlatoani ("imperador") mexica que precedeu Motecuhzoma ou Montezuma e governou os astecas de 1486 a 1502 adotou Ahuízotl como seu nome e símbolo.
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Alguns dizem também que o animal tem patas de macaco. Diz-se que o animal atrai as vítimas para a beira do lago com gritos que parecem o choro de uma criança. Uma vez que a vítima esteja ao seu alcance, ele as agarra com a mão na ponta da cauda e as arrasta para as águas lamacentas onde vive. Também atrai pescadores fazendo peixes e rãs pularem, como se houvesse um peixe grande nas proximidades, e depois os agarra em seus botes.
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Reconhece-se uma vítima do ahuízotl porque seu corpo retorna à superfície exatamente três dias depois, sem os olhos, dentes e unhas, que seriam devorados pelo monstro. Como esse monstro era considerado um servo de Tlaloc (Deus da chuva), o corpo deveria ser retirado e sepultado por um sacerdote e considerado um sacrifício especial a esse Deus, que levaria seu espírito para seu paraíso, o Tlalocan.
Não se conhece a origem da lenda, mas vários povos das Américas têm histórias análogas sobre animais perigosos que vivem em lagos e rios, que podem ser inspirados no castor, no gambá (em náuatle: tlacuache), em alguma espécie de lontra (aizcuíntli, "cão d'água", na mesma língua), ou mesmo na ariranha (Pteronura brasiliensis) da América do Sul.

O deus Mitra

Este estudo buscará enfocar o tema Mitra em cinco partes: a) as origens antigas do Deus; b) o culto e a liturgia do mitraísmo; c) a derrota frente ao cristianismo; d) resquícios mitraícos e sua influência sobre a maçonaria e e) como seria um mundo moderno mitraíco à guisa de conclusão. Utilizamos, para este trabalho, enciclopédias e diversos textos da Internet, principalmente o texto de Jean-Louis dB no “La parole circule”.

I – As Origens Antigas do Deus Mitra.

Existe muita controvérsia sobre a etimologia de Mitra. Na Índia védica, Mitra significava ‘amigo’, no persa avéstico era traduzido como ‘contrato’. Esta última definição é a que prevalece nos nossos dias, sendo pois Mitra a personificação do contrato. Segundo os etimologistas, Mit(h)tra é composto de um sufixo instrumental – “tra” – que significa instrumento de trabalho e de um prefixo “mi” que é encontrado em todas as línguas indo-européias sob diferentes raízes. “Mei” pode significar ainda “lugar, encontro”. Em sânscrito “mitram” significa “amigo”. Mitra significando, pois, ‘contrato’ e ‘amigo’ não se opõem realmente, visto que não existe amizade sem um engajamento mútuo. Não se fala em ‘pacto de amizade’? Mitra se encontra sob diferentes ortografias: Mihr, Meher, Meitros, etc.
Os trabalhos clássicos de Mircea Eliade e principalmente os de Georges Dumézil sobre a Índia védica demonstram uma estrutura fundamental da sociedade e da ideologia das diferentes sociedades indo-européias. A sociedade é dividida em três classes: sacerdotes, guerreiros e agricultores que correspondem a uma ideologia religiosa trifuncional: a função da soberania mágica, da sacrificadora e da jurídica (Varuna-Mitra, Rômulo-Júpiter e Odin); a função dos deuses da força guerreira (Indra, o etrusco Lucumão-Marte e Thor) e, finalmente, a das divindades da fecundidade e da prosperidade econômica (os gêmeos Nâsatya ou os Asvins, Tatius [e os sabinos]-Quirino e Freyr).

Encontra-se o Deus Mitra no Panteão Védico da Índia desde 1380 a. C. Este Proto-Mitra estaria associado a Varuna e forma uma dualidade antitética e complementar. Mitra seria a face jurídico-sacerdotal, conciliadora, luminosa, próxima da terra e dos homens enquanto Varuna seria o aspecto mágico violento, terrível e tenebroso. Mitra torna-se, pois, a garantia do compromisso, a força deliberante, enquanto Varuna o respeito ao bom direito pela força atuante. A antítese Mitra-Varuna encontra-se também em Roma com a oposição dos dois primeiros reis: Rómulo (Varuna-Júpiter), semi-deus violento e Tatius (ou Numa-Mitra), ponderado e sábio, instituidor das questões sagradas e das leis, ligado igualmente aos deuses da fertilidade e do solo. Mitra é o Deus soberano sob seu aspecto racional, claro, regrado, calmo, benevolente, sacerdotal. Seu papel é secundário quando esta isolado de Varuna, mas compartilha com este todos os atributos da soberania. O Sol é seu olho, nada lhe escapa. A conclusão de um acordo se fará através de um sacrifício ao Deus Mitra, mas um sacrifício incruento, pelo menos no início, pois, mais tarde, terminará por aceitar sacrifícios sangrentos. Esta evolução é metaforizada pelo papel de Mitra na história dos Deuses, pois terminará por ser associado à morte do Deus Soma. Na origem, Mitra recusa-se a participar da morte ritual, sendo amigo de todos, pois prestará sua ajuda para, no final, ser um ator ativo na morte ritual.

O Mitra avéstico, encontrado na religião iraniana, é o Mitra mais conhecido e divulgado e precede o monoteísmo zoroastriano. A influência da antiga religião iraniana para a formação religiosa do Ocidente é bastante significativa: o tempo linear, a articulação dos diversos sistemas dualistas – sejam cósmicos, éticos ou religiosos -, o mito do Salvador; a elaboração de uma escatologia ‘otimista’ que proclama o triunfo do Bem sobre o Mal; a salvação universal; a doutrina da ressurreição dos corpos; certos mitos gnósticos; a mitologia dos Magos etc.

Na religião dos aquemênidas, a oposição entre Aúra-Masda (o Bem) e os daêvas (o Mal) sempre foi presente, já que na Índia védica aconteceu o contrário: no conflito entre os devas e os asura, aqueles foram vencedores, pois tornaram-se os verdadeiros deuses, ao triunfarem sobre as divindades mais arcaicas – os asura – que nos textos védicos são considerados figuras ‘demoníacas’. Processo similar, ainda que com sinal trocado, aconteceu no Irã: os antigos deuses, os daêvas, foram demonizados (ai, dos perdedores!). Eliade argumenta que “pode-se determinar em que sentido se efetuou essa transformação: foram sobretudo os deuses de função guerreira – Indra, Saurva, Vayu – que se tornaram daêvas. Nenhum dos deuses asura foi ‘demonizado’. Aquele que, no Irã, correspondia ao grande asura proto-indiano, Varuna, torna-se Aúra-Masda”.

Aqui, a antítese Varuna-Mitra é substituída pelo duo Mitra-Aúra sendo que a função continua a mesma. Mitra é um deus da luz, da aurora, guardião que socorre as criaturas, onisciente e vitorioso. Aúra, tornando-se progressivamente Aúra-Masda, transforma, também, a significação de Mitra, metamorfoseando-o paulatinamente num deus guerreiro. Mitra continua deus do contrato e do acordo e assegura uma ligação entre os diferentes níveis da sociedade da qual é garantidor da ordem, representada pelo gado e a fecundidade. Interessante notar que aquela trilogia de Dumézil – sacerdote, guerreiro e agricultor – começa a ser baralhada. Este Mitra avéstico, mais do que o védico, beneficiará os sacrifícios, notadamente os do Touro. Seu papel de deus guerreiro, contudo, crescerá à medida que Aúra-Masda fortifica e torna dominante o seu lugar no Panteão dos Deuses. Tal ‘evolução’ é lógica, pois como deus garantidor da ordem, sempre estará ao serviço do respeito da lei e do contrato para aqueles que o reverenciam. Com o tempo metamorfoseia-se num deus violento e cruel. É um deus solar com mil olhos e orelhas e, como vimos, um deus da fertilidade dos campos e dos rebanhos. Atua, como Hermes, no papel de psicopompo, ou seja, condutor das almas dos mortos, pois como senhor dos Céus conduz as almas até o Paraíso.

Mitra foi adorados por quase todos os soberanos persas: Ciro o reverenciava; sob Dario houve um breve eclipse, pois este, segundo alguns especialistas, era partidário de Zoroastro; e reaparece com Artaxerxes. Na cerimonial da realeza persa, o dia de Mitrakana era o único dia em que o rei persa tinha o direito de embriagar-se, numa clara analogia com a morte védica.

Mitra retorna ao primeiro plano como deus do sol, dos juramentos e dos contratos, sob a influência dos Magos. Estes foram uma classe de sacerdotes dos antigos medas com um papel sacrificial importante e que entre os gregos antigos gozavam de uma reputação de serem depositários de uma sabedoria esotérica. No Panteão dos Deuses avésticos, Mitra seria filho de Anihata ou Anahita, a gênia feminina do fogo, uma espécie de Virgem Imaculada, Mãe de Deus. É a única figura feminina associada a Mitra, pois este permanecerá celibatário por toda a vida, exigindo de seus admiradores a prática do controle de si, a renúncia e a resistência a toda forma de sensualidade. Vale salientar que o maior Mithraeum (templo) construído em Kangavar na Pérsia Ocidental era dedicado a esta deusa. Segundo reza o Mihr Yasht, o extenso hino em honra a Mitra da saga religiosa persa, a história de Mitra é a seguinte: após ter sido promovido ao panteão dos Grandes Deuses, Aúra-Masda mandou construir-lhe uma mansão no cimo do Monte Hara, ou seja, no mundo espiritual, além da abóbada celeste. Postou-se aí como o protetor de todas as criaturas e não era adorado como todos os outros deuses menores com preces rotineiras. Aúra Masda consagrou Haoma como sacerdote de Mitra que o adorava e lhe oferecia sacrifícios. Aúra Masda cria e prescreve o rito próprio ao culto de Mitra no paraíso. Mitra, assim, retorna à terra para o combate contra os daêvas sem, contudo, conseguir vencê-los. Somente quando Mitra se une a Aúra Masda o destino dos daêvas será selado. Mitra será, a partir daí, adorado como a luz que ilumina todo o mundo.

No tocante aos babilônios, estes incorporarão o Deus Mitra no seu Panteão e, em troca, introduzirão, na religião persa, seu culto solar, tendo a astrologia como um dos seus pontos mais fortes. Convém salientar que a cultura judaica sofrerá uma influência marcante do dualismo zoroastriano a partir do cativeiro em 597 a.C. No judaísmo primordial, Iavé era concebido como o único criador do Mundo e do Universo, ou seja a totalidade absoluta do real, contendo inclusive o mal. O dualismo Iavé – HaShatan advém de uma crise espiritual que se seguiu ao cativeiro babilônico, personificando aspectos negativos da vida, sob a forma de Satã, que se tornará progressivamente também eterno. Satã seria, então, o fruto de uma cissão da imagem arcaica de Iavé combinado com as doutrinas dualistas iranianas. Esta tradição impactará fortemente o cristianismo nascente.


O Mitra irano-helenístico tem a sua gênese com as conquistas de Alexandre e a queda do império persa durante o ano de 330 a. C., pois Alexandre e 10.000 de seus soldados macedônios se casam com mulheres persas e mais, dentro do ritual persa. Sabe-se que alguns destes macedônios e seus filhos, iniciados pelas mães persas, introduziram o culto de Mitra na Macedônia e na Grécia. É deveras conhecido que a adoração deste Deus Mitra, advindo do inimigo persa, nunca obteve uma grande popularidade na Grécia, apesar de continuar a manter a influência junto à aristocracia meda e iraniana. Tanto assim que o nome Mitrídate (dado a Mitra) é encontrado em diversos reis partos, do Bósforo e do Ponto Euxino. A arqueologia tem descoberto diversos templos – Mitreas – na Armênia. Apesar da pouca influência junto ao povo grego, a religião iraniana entrou num vasto movimento sincrético junto à cultura helênica. Mitra era adorado em todo o império de Alexandre e os Magos continuavam a ser os sacerdotes sacrificadores. O culto repousava sobre uma cronologia escatológica de 7.000 anos, cada milênio sendo governado por um planeta. Daí advém a série dos 7 planetas, dos 7 metais, das 7 cores etc. Durante os 6 primeiros milênios, Deus e o Espírito do Mal combatem pela supremacia e, quando o Mal parecia vitorioso, Deus enviou o Deus solar Mitra (Apolo, Hélio) que domina o sétimo milênio. No fim deste período setenal, a potência dos planetas cessa e um incêndio universal recobre o mundo.

Curioso nesta época é a biografia do rei Mitrídate VI Eupator, rei do Ponto, anterior ao nascimento de Cristo. Seu nascimento foi anunciado por um cometa, um raio caiu sobre o recém-nascido, deixando-lhe uma cicatriz. A educação deste rei é uma longa série de provas iniciáticas. É visto durante sua coroação como uma encarnação de Mitra. A biografia real é muito próxima do Natal cristão. Ele será o último rei de uma longa lista de grandes reis Mitridates. Conquistou quase toda a Ásia Menor por volta de 88 a. C., mas foi derrotado pelos romanos em 66. Provavelmente aliou-se aos piratas Cilicianos dos quais falaremos a seguir. Foi, também, o primeiro monarca a praticar a imunização contra os venenos, a qual, segundo o Aurélio, se adquire por meio da repetida absorção de pequenas doses deles, gradualmente aumentadas, daí o nome mitridatismo.

A grande popularidade e o apelo do mitraísmo como uma forma refinada e final do paganismo pré-cristão foi discutida pelo historiador grego Heródoto, pelo biógrafo, também grego, Plutarco, pelo filósofo neoplatônico Porfírio, pelo herético gnóstico Orígenes e por São Jerônimo, um dos pais da Igreja.

O contato com o mundo helênico desenvolvia-se essencialmente a partir de Comageno na Ásia Menor. Daí surgem os primeiros testemunhos sobre Mitra, como um Deus dos Mistérios no primeiro século a. C., curiosamente, no seio dos piratas Cilicianos em luta contra os romanos. É dentro deste contexto de resistência e luta que Mitra pode tornar-se um Deus iniciático. Plutarco diz que celebravam em segredo ‘os mistérios de Mitra’. Sua capital era Tarso, onde nasceu S. Paulo, e Perseu era o seu Deus fundador. O símbolo da cidade era o combate do Leão com o Touro. Paralelamente a isto, os Magos medas se fixaram na Ásia Menor e na Mesopotâmia, infiltrando-se cultural e religiosamente no mundo helênico, principalmente, como vimos, na aristocracia. Cita-se que o rei Tiridate quando veio a Roma para ser coroado rei da Armênia por Nero, dirigiu-se ao imperador chamando-o por Mitra (Deus Sol).

O Mitra romano faz sua ‘rentrée’ no Império através dos Mistérios. O termo “mistério” possui um sentido muito preciso. Os mistérios gregos, e depois romanos, foram numerosos: Dionísio, Elêusis, Cibele, Átis e Deméter. Podem ser ainda citados os de Ísis, Sarápis, Sabázios, Júpiter Doliqueno etc. Uma certa bruma enigmática envolvia todos estas cerimônias dos mistérios, mas o comum entre eles, era o aspecto ‘solar’, apesar de todos esconderem sua identidade essencial. Desnecessário dizer que, por serem os mistérios, secretos e ocultos, poucos documentos escritos chegaram até nossos dias. O pouco que se sabe sobre eles advém da patrística cristã que, na ânsia de combater o mitraísmo, terminou por nos legar uma série de descrições sobre o mesmo. Alguns autores gauleses chegam a afirmar que assim como a maçonaria foi a religião clandestina da IIIª República Francesa, o mitraísmo sustentava subterraneamente a ideologia da Roma Imperial.

A inoculação do veneno mitraíco no seio do Império, segundo Plutarco (Vita Pompeu), foi o transplante, feito por Pompeu em 67 a. C., de 20.000 prisioneiros Cilicianos (uma província na costa sul oriental da Ásia Menor) que praticavam os “ritos secretos” de Mitra. Daí, a epidemia mitraíca se alastrou por todo o mundo romano, reforçada ainda pelos múltiplos contatos das tropas de ocupação romana com as outras culturas mitraícas, tendo atingido o seu zênite no século III, quando começou a travar uma luta de vida e morte com o cristianismo. Tanto assim que do século II ao IV da nossa era, os Mithrae (ou Mithraeum no singular) – templos dedicados ao culto do deus – chegaram a ser mais de 40 em Roma. Um dos maiores templos construídos podem ser encontrados hoje nos subterrâneos da Igreja de São Clemente, perto do Coliseu. Esta adoração não se restringia somente à capital do Império, mas principalmente às cidades portuárias da atual Itália: Óstia, Antium, no mar Tirreno; Aquiléia, no Adriático, Siracusa, Catânia, Palermo etc. Paralelamente, a propagação se dá na Áustria, na Germânia, nas províncias danubianas, na Polônia, na Hungria e Ucrânia e num movimento de volta, nas províncias da Trácia e da Dalmácia, num retorno à Grécia e a Macedônia. No terceiro século, encontram-se traços mitraícos na Criméia, no Eufrates, no Egito e sobretudo no Maghreb. Curioso é que a Espanha e Portugal sofreram pouquíssima influência. A Gália oriental, renana e belga, pagou o seu tributo, assim como também a Aquitânia. Encontram-se vestígios na região parisiense, como também em Boulogne sur Mer. Na Inglaterra, a concentração se dá em Londres e na região norte, ao longo do muro de Adriano, até Canterbury. Locais de adoração mitraíca foram encontrados também, na Bretanha, na Romênia, na Alemanha, na Bulgária, na Turquia, na Pérsia, na Armênia, na Síria, em Israel etc. No final do século III, Mitra era adorado da Escócia à Índia, chegando até a oeste da China, onde era conhecido como Amigo, nome que indica uma filiação védica.

Mitra passa a ser representado como um general militar. É o Amigo do homem durante a sua vida e seu protetor contra o mal após a sua morte. Mitra não é só propagado pelos militares romanos como também pelos funcionários, comerciantes, artistas, meio jurídico e financeiro e, principalmente nos círculos do conhecimento. Ao contrário da Grécia, penetra nos meios mais modestos e populares. Por mais de trezentos anos, os romanos adorarão Mitra.

Em meados do segundo século, seu culto atinge a cúpula militar. Os neófitos começaram a congregar-se sob os Flávios, espalhando-se o culto na época dos Antoninos e Severos. Os próprios Imperadores se fizeram iniciar nos mistérios, havendo suspeitas de que Nero tenha sido um deles. Contudo, é Cômodo (185-192) que parece ter sido o primeiro a se converter ao culto, seguido por Sétimo Severo. Caracala (211-217) encoraja o culto do Deus solar sob a forma de Sol invictus. O culto foi reintroduzido por Aureliano (270-275). O apoio oficial virá, entretanto, no reinado de Diocleciano em 307. Apesar destas emanações, não parece que Mitra tenha recebido uma preponderância imperial na corte dos Césares pagãos. Deve-se notar, ainda, que do mesmo modo que o cristianismo, sua influência não foi estendida ao meio rural. Alguns autores sugerem que isto se deveu à exclusão das mulheres nas funções litúrgicas.

II – Representações Litúrgicas e Ritualísticas do Deus Mitra

Mitra é um Deus de forma humana. É representado sob a forma de um jovem montado num touro e, com uma das mãos, empunha uma adaga para o degolar. Alguns afrescos, encontrados na parte mais central do Mithraeum (templo subterrâneo de adoração), representam Mitra com a cabeça voltada para o alto ou para o lado, significando desgosto com o que está fazendo. Sincreticamente, encontram-se ainda imagens de Teseu matando o Minotauro ou Perseu chacinando a Górgona ou, ainda, Hércules esfolando o Touro. Mitra está vestido em trajes orientais e muitas vezes circundado por dois meninos ou pastores que podem simbolizar o levante e o ocaso, o Outono ou a Primavera, as marés – montante e vazante – e ainda, a vida e a morte. A cena possivelmente se passa numa gruta. Um corvo, mensageiro do sol, está quase sempre na borda do rochedo. Vê-se ainda um cão se aproximando para beber o sangue da vítima, uma serpente enroscada dentro de uma pequena cratera e ao redor de um recipiente, um leão ameaçador, espigas de trigo sobre o rabo do touro e um escorpião que pica os testículos do animal morto.

A figura do touro tem sido exaltada através do mundo antigo pela sua força e vigor. Os mitos gregos falavam sobre o Minotauro, um monstro metade-homem metade-touro que vivia no Labirinto nos subterrâneos da ilha de Creta e que exigia um sacrifício anual de seis mancebos e seis donzelas antes de ter sido morto por Teseu. Peças de arte minóica representavam ágeis acrobatas saltando bravamente sobre o dorso de touros. O altar, em frente ao Templo de Salomão em Jerusalém, era adornado com chifres de touros que acreditavam ser portadores de poderes mágicos. O touro era também um dos quatro tetramorfos, ou seja um dos símbolos animais associados com os quatro evangelhos. A mística deste poderoso animal ainda sobrevive atualmente nas touradas da Espanha e do México, no rodeio dos ‘cowboys’ dos EEUU e agora, também, no Brasil.

Os estudos clássicos do belga Franz Cumont (1913) que provaram ser os mistérios mitraícos derivados das antigas religiões iranianas explica parcialmente como a cena da morte do Touro – conhecida como tauroctonia – inexiste na mitologia iraniana com a figura de Mitra. Cumont responde que teria encontrado textos que apresentavam o matador do touro como Ahriman, ou seja a força cósmica do mal na religião iraniana.

Somente a partir do Primeiro Congresso Internacional de Estudos Mitraícos (1971) levantaram-se novas hipóteses para explicar esta incongruência. A iconografia tauroctônica seria, na verdade, um mapa astronômico! Tais hipóteses, segundo os estudos de David Ulansey, baseiam-se em dois fatos: i) cada figura, na tauroctonia padrão, teria um paralelo com um grupo de constelações ao longo de uma faixa contínua no céu: o boi tem um paralelo com a constelação do Touro, o cachorro com o Cão Menor, a serpente com a Hidra, o corvo com o Corvus e o escorpião com Scorpio; ii) a iconografia mitraíca, em geral, é permeada por imagens astronômicas explícitas: o zodíaco, os planetas, o sol, a lua e as estrelas são permanentemente encontrados na arte mitraíca.

A pesquisa de Ulansey sobre cosmologia antiga, principalmente a astronomia greco-romana, focaliza o seu caráter “geocêntrico” no tempo dos mistérios mitraícos, no qual a terra era fixa e imóvel no centro do universo e tudo girava à sua volta. Nesta cosmologia, o universo era imaginado como estando contido numa grande esfera no qual as estrelas eram fixadas em várias constelações. Hoje sabemos que a terra tem um movimento de rotação sobre o seu eixo cada dia, mas na antigüidade acreditava-se que, uma vez por dia a grande esfera das estrelas fazia a sua rotação sobre a terra, oscilando num eixo que corria da abóboda do polo norte para o do sul. No seu giro, a esfera cósmica carregava o sol, explicando assim a oscilação do mesmo sobre a terra.

Além deste movimento, os antigos atribuíam um segundo movimento mais vagaroso. Enquanto hoje sabemos que a terra gira ao redor do sol durante o ano, na antigüidade acreditava-se que, durante o ano, o sol – que estava bem mais próximo do que as outras estrelas – viajava sobre a terra, traçando um grande círculo no céu tendo como fundo as outras constelações. Este círculo, traçado pelo sol durante o ano, era conhecido como o zodíaco, uma palavra significando ‘figuras vivas’, pois o sol passeava, durante o ano, sobre doze diferentes constelações que representavam diversas figuras de animais e formas humanas. Visto que os antigos acreditavam na existência real de uma grande esfera de estrelas, suas várias partes – tais como os eixos e os pólos – jogavam um papel crucial na cosmologia de seu tempo. Particularmente, um importante atributo da esfera das estrelas era muito mais bem conhecido do que hoje: o equador, denominado na época de equador celeste. Assim como o equador terrestre é definido como um círculo ao redor da terra eqüidistante dos pólos, também o equador celeste era entendido como um círculo ao redor da esfera das estrelas eqüidistante dos pólos desta mesma esfera. O círculo do equador celeste era visto como tendo uma importância especial por causa dos dois pontos em que ele cruzava com o círculo do zodíaco: estes dois pontos eram os equinócios, ou seja, o local onde o sol, no seu movimento através do zodíaco, cortava-o no primeiro dia da primavera e no primeiro dia do outono. Assim, o equador celeste era responsável pela definição das estações e, por esta razão, tinha uma significação concretíssima ao lado seu significado astronômico mais abstrato.

Um outro fato sobre este equador celeste é decisivo: como não estava fixo, possuía um movimento lento alcunhado de “precessão dos equinócios”. Este movimento, sabemos hoje, é causado por uma oscilação na rotação da terra sobre seu eixo. Como resultante desta leve oscilação, o equador celeste parece mudar sua posição no curso de milhares de anos. Este movimento é conhecido como a precessão dos equinócios por que o seu efeito observável mais facilmente é uma mudança na posição dos equinócios ou seja, os locais onde, como vimos acima, o equador celeste cruza o zodíaco. Desta maneira, esta precessão resulta num movimento vagaroso para trás ao longo do zodíaco, passando sobre uma constelação do zodíaco a cada 2.160 anos e percorrendo todo o zodíaco a cada 25.920 anos. Hoje, por exemplo, o equinócio da primavera está no final da constelação de Peixes, mas, em algumas dezenas de anos, estará entrando em Aquário – já se fala muito, atualmente, na Era de Aquário. A grosso modo, o equinócio da primavera estava em Touro entre 4.000 a 2.000 a.C. mais ou menos; em Áries de 2000 a.C. até o nascimento de Cristo, ou seja nos tempos greco-romanos; a Era de Peixes – o cristianismo –, da gênese do mesmo até a nossa mudança de milênio e de 2000 e poucos em diante, a tão decantada Era de Aquário.

Ulansey descobriu que, neste fenômeno da precessão dos equinócios, estaria a chave para desvendar o segredo do simbolismo astronômico da tauroctonia mitraíca. Para as constelações desenhadas nas tauroctonias mais comuns havia uma coisa constante: todos eles estavam posicionados no equador celeste como na época imediatamente precedente à Era de Áries dos tempos greco-romanos. Durante esta idade anterior, que podemos chamar de Era de Touro (como vimos durou mais ou menos de 4.000 a 2.000 a.C.), no equador celeste da época estavam Taurus (Touro, o equinócio da primavera), Canis Minor (o Cão), Hydra (a serpente), Corvus (o Corvo) e Scorpio (o Escorpião que estava no extremo oposto do Touro, ou seja, o equinócio do Outono). A coincidência é impressionante, todos estas constelações estão representadas nas tauroctonias.

Em muitas ilustrações tauroctônicas, a cabeça de Mitra é nimbada de estrelas. Assim, a morte do Touro representaria, no zodíaco, o fim da Era de Touro e o começo da Era de Aries no equinócio da primavera e Mitra, o deus Todo-Poderoso, que poderia reger e mudar todo o sistema cósmico. Nos escritos do filósofo neoplatônico Porfírio, encontra-se a alusão de que a caverna, onde se posiciona o Mithraeum e está desenhada a tauroctonia, na sua parte mais recôndita, seria, na verdade, uma ‘imagem do cosmos’.

Como curiosidade, Freud e Jung tiveram uma divergência básica sobre a interpretação psicanalítica do morte do touro, sendo um dos pontos básicos de divergência e conflito entre ambos, resultando, posteriormente, em separação definitiva.

Mitra, Deus solar, também é representado com a cabeça de um Leão quando é saudado com o título de Sol invictus. São os afrescos, encontrados em Mênfis, com as coxas peludas, patas de caprino e a cabeça radiada. Mitra Leoncéfalo, portando as chaves, é outra imagem lapidar, pois fora das cenas tauroctônicas, ele é representado em momentos de refeição ou de iniciação.

No tocante ao culto e à liturgia, estes se faziam no interior do Mithraeum e na presença dos fiéis. A liturgia constava de ofícios e orações; manducação de pão e sumpção de água e vinho, acompanhadas de fórmulas sagradas; danças de luzes e fórmulas de êxtase; orações ao nascer do Sol, ao meio-dia e ao ocaso. As festas realizavam-se no sétimo mês do ano, mas todos os meses se festejava uma semana inteira, sendo cada dia destinado a um planeta. Comemorava-se, de modo especial, o dia natalício do deus (Natalis Invicti), a 25 de dezembro. Os ofícios dos templos faziam-se à luz de velas, com toques de sinos e com hinos, cujo teor não se conhece, porque se perderam.

O Mithreum típico era uma pequena câmara retangular subterrânea (25x10m) com um teto arqueado. Um corredor dividia o templo ao meio, com bancos de pedra dos dois lados de 80 cm de altura no qual os membros do culto podiam descansar durante suas reuniões. Um mithraeum podia comportar de 20 a 30 pessoas. No fundo do templo, no final do corredor, havia sempre uma representação – normalmente um relevo entalhado e algumas vezes uma escultura ou pintura – do ícone central do mitraísmo: a tauroctonia ou a cena da morte do touro, conforme descrito acima. Outras partes do templo eram decoradas com várias cenas e figuras. Deveria ser implantado perto de uma fonte ou curso d’água ou, na falta destes, de um poço. Havia centenas, talvez milhares, de templos mitraícos no Império Romano.

Os adeptos de Mitra não se contentavam com um misticismo contemplativo. O seu culto encorajava a ação e um grande rigor moral. Para os soldados, a resistência ao mal e às ações imorais representavam uma vitória tão importante quanto as militares.

Reuniam-se, em pequenos grupos, unidos e solidários pelo ritual iniciático. Partilhavam o banquete sacramental com os deuses e finalizavam com uma aliança entre o sol e Mitra. O repasto, sobre os despojos de um touro, era seguido de um sacrifício, muitas vezes de um touro, ou de animais simbolizando o touro: cabras, javalis e/ou galináceos.

Consagrava-se o pão e a água, bebia-se o vinho que simbolizava o sangue do touro e comia-se a carne. O processo da iniciação mitraíca requeria a subida simbólica de uma escada cerimonial com sete degraus, cada um feito de um metal diferente para simbolizar os sete corpos celestiais. Simbolicamente galgando esta escada cerimonial através de sucessivas iniciações, o neófito podia atravessar os sete níveis do céu. Os sete graus do mitraísmo eram: Corax (Corvo), Nymphus ( Noivo), Miles (Soldado), Leo (Leão), Peres (Persa), Heliodromus (Corrida do Sol) e Pater (Pai); cada grau era protegido por um planeta (na cosmologia da época): Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, a Lua, o Sol e Saturno. Cada dignitário apresentava a vestimenta e a máscara correspondente ao seu grau. Como todo rito mitraíco a estrutura hierárquica era setenária. Os adeptos tinham a sua divisão de papéis: o chefe (pater), o papel de Mitra, o heliodromo (sol), o corvo apresentavam as carnes e as bebidas aos convivas dentro de uma ordem hierárquica. A carne era assada sobre os altares dentro da concepção do sacrifício do mundo greco-romano.

Os rituais iniciáticos constavam da admissão dos fiéis por “inductio”. Antes de serem admitidos, os candidatos eram interrogados, sondados, informados num local distinto do templo. Em seguida, eram submetidos a uma série de provas, nus e com os olhos vendados, marchavam às apalpadelas diante de um mistagogo para finalizar se ajoelhando diante de um personagem que portava uma tocha diante de seus olhos. A seguir, com as mãos atadas às costas, colocavam um joelho no chão ao mesmo tempo que um sacerdote cingia-lhes a cabeça com uma coroa. No final, prostravam-se como mortos. Tudo isto faz parte da tipologia iniciática das sociedades secretas em geral: olhos vendados, resistência física, morte simbólica, etc.

Reprova-se, nos adeptos de Mitra, a propensão aos sacrifícios humanos. Tal suposição advém de se ter encontrado, nos diversos Mithrae, restos de esqueletos humanos.

Apesar de todos os estudos antigos e modernos, conhece-se mal a “teodicéia” mitraíca. Sabe-se, contudo, que os “mistérios” da Antigüidade revelam um mito ou uma história santa que legitima a liturgia. É uma certa explicação do Mundo e da passagem do homem sobre o mesmo que dá toda a força aos “mistérios”, sejam eles de Mitra, de Elêusis, em suma de quase todos. A religião de Mitra se independentizou de suas origens orientais, agindo como um imã que atraiu diversos aportes: gregos, babilônicos, romanos etc. Finalizou como um Deus adaptado ao Império Romano, explicando assim o seu sucesso. Uma das grandes ironias da história é o fato de que os romanos terminaram por adorar um deus de um de seus maiores inimigos políticos: os persas. O historiador romano Quintius Rufus assinala no seu livro História de Alexandre que antes de ir batalhar contra os “países anti-mitraícos” de Roma, os soldados persas oravam a Mitra pela vitória. Sem embargo, tendo as duas civilizações inimigas estado em contato de conflito aberto ou latente por mais de mil anos, os adoradores de Mitra migraram dos persas, através do frígios da Turquia, até os romanos.

Numa análise simbólica final, o culto de Mitra revela uma história do Mundo. Saturno (ou Cronos, representando o Tempo) reinava soberano sobre o Mundo, quando entregou a Júpiter o raio, uma arma letal que serviu para derrotar os gigantes e gênios do mal. Alguns autores hipotetizam que este gênio do mal poderia ser o Oceano que cobria a Terra.



Mitra, Deus petrógeno, não descende aqui do Céu, pois surge miraculosamente de uma rocha com um barrete asiático, tendo em uma das mãos uma tocha luminosa e na outra, a adaga. Pastores assistem e ajudam este nascimento. Mitra, em seguida, é encontrado junto de uma árvore ceifando o trigo. Depois é visto atirando com um arco sobre uma parede rochosa onde jorra uma fonte que sacia os pastores. Alguns autores concluem que as forças do mal (Oceano?) tentaram aniquilar os humanos pela fome e pela sede e que Mitra, salvador dos homens e Deus protetor, interveio para os alimentar e saciar sua sede, não só dos homens como dos rebanhos. Nota-se, também, que o papel “justiceiro” das tradições asiáticas não desapareceu, pois Mitra vem em socorro do Mundo para fazer respeitar a Lei Divina.

Começa, agora, a perseguição ao Touro. O touro está em conjunção com a lua, seus dois chifres formam o crescente. O touro contem os elementos vivos (o esperma do touro purificado pelo raio da lua produzirá os espécimens animais). Mitra tem a missão de subtrair estas forças vivas das tentações maléficas. O touro se refugia numa construção mas dois pastores ateiam fogo ao local. Mitra alcança o animal, agarra os seus cornos e consegue cavalgá-lo. Depois, prende as patas traseiras do animal, arrasta-o até a gruta onde um corvo, mensageiro do Sol, impõe-lhe a tarefa de matar o animal insubmisso. A morte do touro atrai uma serpente e um cachorro que se apressam em sugar o sangue que jorra da ferida enquanto um escorpião (algumas vezes um caranguejo ou um ‘câncer’) fisga os testículos da vítima para aspirar sua força vivificante.

Cumont afirma que espigas de trigo saem da ferida, juntamente com o sangue que escorre da calda do touro. Do corpo da vítima moribunda nascem as ervas e as plantas salutares… De sua medula espinal germina o trigo que dá o pão, de seu sangue, a vinha que produz a beberagem sagrada dos mistérios. É após a morte do touro que um conflito se abate entre Hélio e Mitra. O Sol, ajoelhado diante da tauroctonia, perde sua prerrogativa de astro soberano. Mitra torna-se o verdadeiro Sol Invictus que vem salvar a criação. O Sol reconhece a preeminência de Mitra pois se faz iniciar no grau de Soldado (Miles).

III – O Cristianismo Triunfante

O fim do mitraísmo coincide com o seu zênite no século III d.C. e vem acompanhado da entronização do cristianismo como religião do Império Romano. Como vimos, o mitraísmo sofria o passivo de praticar uma liturgia elitista em pequenas sociedades secretas na qual as mulheres eram excluídas. Não se propunha ser uma reli-gião de massa, aberto a todos, como o cristianismo. Era uma religião otimista e Mitra teve o grande defeito de não ter morrido para salvar o mundo.

Como os persas eram inimigos hereditários do Império Romano, os cristãos fizeram de tudo para ligar o mitraísmo a uma religião “inimiga”, persa por excelência, pois os romanos não deveriam adorar um deus importado do adversário. Apesar de tudo parece que Constantino manifestou uma certa simpatia pelo mitraísmo, principalmente na sua versão de “Sol invictus”. Quando este primeiro imperador cristão colocou todas as religiões pagãs na clandestinidade, poupou os mitraístas pois estes possuíam muita influência junto aos militares que eram o cimento do Império. O ‘punctus saliens’ no qual os cristãos atacavam os mitraístas era a sua propensão aos sacrifício animais. Quando estes sacrifícios foram interditados, bloqueou-se um dos fundamentos vitais do culto mitraíco.

O combate mortal entre o cristianismo e o Mitra pagão pode ser lido nos escritos de Tertuliano (160-220 d.C.) ao afirmar que esta religião utilizava indevidamente o batismo e a consagração do pão e do vinho. Dizia, ainda, que o mitraísmo era inspirado pelo diabo que desejava zombar sobre os sacramentos cristãos com o intuito de levá-los para o inferno. Não obstante, o mitraísmo sobreviveu até o século Vº em remotas regiões dos Alpes entre as tribos dos Anauni e conseguiu sobreviver no Oriente Próximo até os dias de hoje.

No curto reinado do imperador Juliano, sobrinho de Constantino, Gibbon afirma que se assistiu a um retorno temporário ao mitraísmo, tendo este Imperador se reconhecido até mesmo como adepto e chegando a construir um Mithraeum nos calabouços de seu palácio em Constantinopla. Seguiu-se um período de tolerância quando, sob o reinado de Teodósio (375-395), o cristianismo tornou-se religião de Estado e o paganismo foi definitivamente interditado. O mitraísmo sobreviveu em Roma até 394 sendo que a Basílica de São Pedro foi construída sobre o local do último culto mitraíco: o Phrygianum. A partir daí, o cristianismo construiu, boa parte de seus templos, acima de cavernas que continham Mithrae, seja em Roma seja nas províncias do Império. A catedral de Canterbury e a de São Paulo em Londres, o mosteiro do Monte Saint-Michel e algumas catedrais em Paris estão construídas sobre antigos Mithrae em ruínas.

Os pontos comuns entre o cristianismo e o mitraísmo são inúmeros. O nascimento de Cristo é anunciado por uma estrela assim como o de Mitridate Eupator. Ambos são nascidos de uma Virgem Imaculada que toma o nome de Mãe de Deus. A caverna, a gruta são os locais de nascimentos tanto de Cristo quanto de Mitra. A presença de pastores e de seu rebanho também estão presentes em ambos os nascimentos. A gruta de Belém é prenhe de luz e Mitra é um deus solar. Além do mais, o ouro, símbolo do Sol, tem uma importância crucial na liturgia cristã. Deus é Amor mas também Luz. O nascimento dos dois deuses foi a 25 de dezembro, solstício de Verão no Hemisfério Norte. Sabe-se que Cristo não teria nascido no dia 25 e que, somente com o fim do mitraísmo, a Igreja Cristã, “cristianizou” o dia como a festa do Natal. Tanto Cristo como Mitra eram castos e celibatários. Todas as duas religiões são fundadas sobre um sacrifício salvador do Mundo, mas com a morte de Cristo, o cristianismo tira a sua vantagem e sua superioridade. A morte do Touro encontra um símile na luta de São Jorge com o dragão. A vontade de neutralizar as potências do mal, a guerra entre as duas potências e a vitória do Bem. A consagração do pão e do vinho estão presentes entre os cristãos e os iniciados de Mitra. No grau de Soldado (Miles), o iniciado é marcado com uma cruz de ferro em brasa sobre a fronte. A imortalidade da alma e a ressurreição final. As igrejas antigas possuem criptas subterrâneas que evocam os templos mitraícos. A fraternidade e o espírito democrático das primeiras comunidades cristãs se assemelham muito ao mitraísmo. A fonte jorrando da rocha, a utilização de sinos, os livros e as velas, a água santa e a comunhão, a santificação do Domingo (fora da tradição judaica do Sábado), a insistência numa conduta moral, o sacrifício ritual, a angeologia, a teologia da luz, dualidade deus-diabo, o fim do mundo e o apocalipse são também comuns em ambas as religiões.

Outro símile interessante seria entre Mitra e Papai Noel. Vestimentas vermelhas e barrete frígio são comuns a ambos como também as velas incrustadas em árvores (de Natal) nas cerimônias natalinas.

IV – Sobrevivência Mitraíca e sua Influência na Maçonaria

Encontram-se traços mitraícos nas diversas gnoses e principalmente nas heresias dualistas cristãs. O esoterismo do gnosticismo cristão foi muito influenciado pelas religiões egípcias e iranianas. Os segredos, revelados aos “Perfeitos”, referiam-se aos mistérios da ascensão e descida de Cristo através dos Sete Céus habitados pelos anjos. Autores modernos chegam a afirmar que o gnosticismo é um fenômeno pré-cristão de origem iraniana que poluiu o cristianismo nascente. A influência dos cultos iranianos e especificamente mitraícos sobre a gnose de Mani são insofismáveis. Desde o século III d. C., o segredo mitraíco força as portas da barca de São Pedro. A pressão deste dualismo maniqueísta percorre toda a Idade Média. O bogomilismo da Europa Oriental inicia a sua trajetória a partir do século X colocando Satã no lugar de Deus, infligindo um poder considerável sobre as heresias Cátaras e Albigenses no alvorecer do século XII na Europa Ocidental. Estas heresias gnósticas cristãs professavam a asserção de que Deus não teria criado o Mundo, estando este sob o domínio de Satã – assimilado ao demiurgo Yahvista. O verdadeiro Deus estaria tão distante da Terra onde se dão estes embates entre o Bem e o Mal. Apesar disto teria enviado Cristo para salvar os homens ao mostrar-lhes o método da libertação.

Outra difusão de um mitraísmo mitigado estaria entre os Cavaleiros do Templo, pois estes sofreram a influência dos maniqueus. No culto a Baphomet, também conhecido como o filho de Mitra, havia um ícone representado por um Touro ornado com uma chama entre seus cornos…

O culto de Mitra enquanto sociedade iniciática tem certas semelhanças com a maçonaria propriamente dita. A fraternidade entre os membros, a exigência de uma conduta moral, a vontade de defender, de maneira ativa e não contemplativa, o bem e a virtude são, ao mesmo tempo, padrões maçônicos e mitraícos. A defesa da ordem política e social, o culto exclusivamente masculino são também pontos comuns. Ritualisticamente encontram-se os seguintes traços: a mania pelo número 7, a existência de graus iniciáticos, as velas, os altares, a Luz, as palavras de passe, etc. O templo maçônico pode ser visto como uma gruta mitraíca ou se não se quiser ir muito longe o símile poderá ser feito com a câmara de reflexões; o teto estrelado do templo tem profunda semelhança com os mitraícos. Os templários, a tradição judaica e cristã foram os grandes transmissores de símbolos mitraícos. Os dois São Joães – de Inverno e de Verão – tem profunda vinculação com os dois pastores da tauroctonia. O sacrifício ritual fundador de Hiram está muito próximo do sacrifício ritual do Touro. O corvo no acampamento militar, encontrado nos altos graus do escocesismo, é uma prova cabal da influência mitraíca.

Outro símile estaria no mais baixo grau de iniciação – o grau de Corvo (Corax) – simbolizava a morte do novo membro, o qual deveria renascer como um novo homem. Isto representava a fim de sua vida como um não-crente (ou descrente) e cancelava pretéritas alianças de outras crenças inaceitáveis. Curioso salientar que o título de Corax (Corvo) originou-se com o costume zoroástrico de expor os mortos em elevações funerárias para ser comido pelas aves de rapina. Este costume continua, até os dias de hoje, sendo praticado pelos Parsis da Índia, descendentes dos persas seguidores de Zaratustra.

O simbolismo sexual, encontrado em diversos rituais maçônicos, poder ter um paralelo com o touro, pois este era uma óbvia representação da masculinidade pela natureza de seu tamanho, de sua força e de seu vigor sexual. Ao mesmo tempo, o touro simbolizava as forças lunares em virtude de seus cornos e as forças telúricas em virtude de ter as quatro patas assentadas no solo. O sacrifício do touro simboliza a penetração do princípio feminino pelo masculino, a vitória da natureza espiritual sobre a animalidade, tendo um paralelo com as imagens simbólicas de Marduk destruindo Tiamat, Gilgamesh aniquilando Huwawa (grafia de Eliade), São Miguel dominando Satã, São Jorge vencendo o dragão, o Centurião lancetando Cristo e, por que não nos referirmos a um ícone moderno: Sigourney Weaver lutando contra o Alien?

Finalmente, o mitraísmo era, concomitantemente, um culto dos mistérios e uma sociedade secreta. Tal como os ritos de Deméter, Orfeu e Dionísio, os rituais mitraícos admitiam candidatos em cerimônias secretas cujo significado era do conhecimento somente do iniciando. Como todos os outros ritos de iniciação institucionalizados do passado e do presente, este culto dos mistérios permitia aos iniciados ser controlado e posto sob o comando de seus líderes. Ao ser iniciado, o neófito tinha que provar sua coragem e devoção nadando através de rio caudaloso, escalando um rochedo íngreme ou pulando através das chamas com suas mãos atadas e os olhos vendados. Ao iniciado era também ensinado o segredo das palavras de passe mitraícas que eram usadas para identificação mútua como também era auto-repetida freqüentemente como um mantra pessoal.

V – Como seria um Mundo Mitraíco à Guisa de Conclusão

O legado mitraíco resulta em comportamentos usados ainda hoje em dia, tal como o apertar as mãos e o uso da coroa pelo monarca. Os adoradores de Mitra foram os primeiros no Ocidente a pregar a doutrina do direito divino dos reis. Foi a adoração do sol, combinada com o dualismo teológico de Zaratrusta, que disseminou as idéias sobre as quais o Rei-Sol Luis XIV (1638-1715) na França e outros soberanos deificados na Europa mantiveram o seu absolutismo monárquico.

Alguns estudiosos afirmam que, durante o IIº e o IIIº século d.C., nunca a Europa esteve tão perto de adotar uma religião indo-ariana quando Diocleciano, oficialmente, reconheceu Mitra como o protetor do Império Romano, nem mesmo durante as invasões muçulmanas.

Especulações teóricas anglo-saxãs hipotetizam que se um golpe de estado, dado pelos centuriões adoradores de Mitra, tivesse impedido Constantino de estabelecer o cristianismo como a religião oficial do Império, o mitraísmo poderia possivelmente sobreviver através dos séculos seguintes com a assistência teológica da heresia maniquéia e seus epígonos, assumindo “ipso facto” que os ensinamentos de Jesus teriam, de alguma maneira, sido simultaneamente anulados e, talvez, com um número crescente de crucificações. Esta ausência do cristianismo, devido à continuação do mitraísmo no Ocidente, teria obstado o crescimento do Islã no século VII e a violência das Cruzadas necessariamente não teria ocorrido. Assumindo, ainda, que o Islã não teria, assim, conquistado religiosamente a Pérsia, a adoração de Mitra poderia ter continuado no panteão de Zaratrusta. Como conseqüência, o mitraísmo poderia ter penetrado com mais força nos panteões da Índia e da China e, possivelmente, teria aportado nos países do Extremo-Oriente.

Continuando com a especulação saxã que resultou na “lenda negra” da dominação espanhola no Novo Mundo, Colombo realizou os seus descobrimentos em pleno período da Inquisição, fenômeno este representativo da culminância de mais de mil anos de uma das maiores religiões monoteístas semítica – o cristianismo. Se o mitraísmo tivesse sobrevivido o milênio até o ano de 1492, os povos indígenas das Américas poderiam ter sido expostos à adoração de Mitra no lugar dos missionários católicos. Imaginaríamos, assim, o Taurobolium – ritual de regeneração ou sacrifício do touro, no qual o sangue do animal era derramado sobre o iniciado – sendo sido transposto e sincretizado com o ritual da caça do búfalo dos índios das planícies do Oeste americano e a cerimônia do sacrifício dos maias, incas e astecas, e provavelmente, estes impérios não teriam sido aniquilados pelos brutais conquistadores europeus em nome do Rei e de Cristo.

Autor: Ven. Irmão WILLIAM ALMEIDA DE CARVALHO

o Antigo Egito e os Faraós Negros


Um capítulo esquecido da história fala de um tempo em que reis do interior da África conquistaram o Antigo Egito. No ano de 730 a.C., um homem chamado Piye chegou à conclusão de que a única maneira de salvar o Egito de si mesmo era invadi-lo. E muito sangue iria correr antes de chegar o momento da redenção. "Preparem as melhores montarias de seus estábulos", ordenou ele a seus comandantes. A magnífica civilização que construíra as grandes pirâmides havia perdido o rumo, destroçada por medíocres chefes guerreiros. Durante duas décadas, Piye estivera à frente do próprio reino na Núbia, um trecho da África situado quase todo no atual Sudão.
Mas ele também se via como o verdadeiro Senhor do Egito, o legítimo herdeiro das tradições espirituais mantidas por faraós, como Ramsés II e Tutmés III. Como Piye provavelmente jamais colocara de fato os pés no Baixo Egito, houve quem não levasse a sério suas reivindicações. Agora, contudo, Piye iria testemunhar com os próprios olhos a submissão do Egito decadente.
Suas tropas seguiram para o norte, navegando pelo rio Nilo. E desembarcaram em Tebas, capital do Alto Egito. Convencido de que havia uma maneira apropriada de travar guerras santas, Piye ordenou aos soldados que, antes do combate, se purificassem com um banho no Nilo, vestissem panos de qualidade e aspergissem sobre o corpo a água do templo em Karnak, um local santo para Amon, o deus solar com cabeça de carneiro, considerado por Piye como a sua divindade pessoal. Assim consagrados, o comandante e suas tropas passaram a enfrentar todos os exércitos que cruzavam pelo caminho.
No fim de uma campanha de um ano, todos os chefes guerreiros do Egito haviam capitulado - incluindo Tefnakht, o líder do delta, que enviou uma mensagem a Piye: "Seja clemente! Não posso contemplar o teu semblante nos dias de vergonha nem me erguer diante de tua chama, pois temo a tua grandeza". Em troca da própria vida, os derrotados conclamaram Piye a adorar em seus templos, a ficar com suas jóias mais refulgentes e a apoderar-se de seus bons cavalos.
O conquistador não se fez de rogado. E então, diante de seus vassalos que tremiam de medo, o recém-sagrado Senhor das Duas Terras fez algo extraordinário: após embarcar seu exército e seu butim, içou velas rumo ao sul, navegou de volta para casa, na Núbia, e jamais voltou ao Egito.
Em 715 a.C., quando Piye morreu, encerrando um reinado de 35 anos, seus súditos atenderam a seu desejo e o enterraram em uma pirâmide de estilo egípcio, juntamente com quatro de seus amados cavalos. Piye foi o primeiro faraó a ser sepultado dessa maneira em mais de 500 anos. É uma pena, portanto, que nada do semblante literal desse grande núbio tenha sobrevivido. As imagens de Piye nos elaborados blocos de granito, conhecidos como estelas, e que registram sua conquista do Egito, há muito foram apagadas. Em um relevo no templo da capital núbia de Napata, restaram apenas as pernas de Piye. Só temos certeza de um único detalhe físico do faraó: a cor de sua pele, que era negra.
Piye foi o primeiro dos chamados "faraós negros" - uma série de soberanos núbios que reinaram sobre todo o Egito durante três quartos de século, constituindo a 25a dinastia. Graças a inscrições entalhadas em estelas tanto pelos núbios como por seus inimigos, podemos ter idéia da imensa área do continente controlada por esses governantes. Os faraós negros reunificaram um Egito fragmentado e marcaram sua paisagem com monumentos gloriosos, criando um império que se estendia desde a divisa meridional na atual Cartum, seguindo na direção norte, até o Mediterrâneo. Eram poderosos o bastante para enfrentar os sanguinolentos assírios, e talvez com isso tenham salvo a cidade de Jerusalém. Nas últimas quatro décadas, os arqueólogos começaram a recuperar a história desse reino - e a aceitar que os faraós negros não tinham caído do céu. Em vez disso, haviam surgido de uma robusta civilização africana que florescera nas margens meridionais do Nilo durante 2,5 mil anos, remontando à primeira dinastia egípcia.
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Atualmente, as pirâmides do Sudão - mais numerosas que as do Egito - são espetáculos assombrosos no deserto da Núbia. É possível perambular por elas sem nenhum temor, mesmo se estivermos desacompanhados, como se a região nada tivesse a ver com o genocídio no país, a crise dos refugiados em Darfur ou as conseqüências da guerra civil no sul. Enquanto cerca de mil quilômetros ao norte, no Cairo ou em Luxor, multidões de turistas curiosos desembarcam de um ônibus após outro, espremendo-se para ver e apreciar as maravilhas egípcias, as pouco visitadas pirâmides sudanesas de El Kurru, Nuri e Meroé se erguem serenamente em meio a uma paisagem árida e vazia que mal sugere que ali teve lugar próspera cultura da antiga Núbia.
Agora, contudo, nosso vago entendimento dessa civilização está mais uma vez ameaçado de mergulhar na obscuridade. O governo sudanês constrói uma usina hidrelétrica no rio Nilo, cerca de mil quilômetros acima da barragem de Assuã, erguida pelo Egito nos anos 1960 e que transformou grande parte da Baixa Núbia no leito do lago Nasser (chamado de lago Núbia, no Sudão). Até 2009, ficará pronta a enorme barragem de Merowe e um lago com 170 quilômetros de comprimento irá inundar as terras em torno da Quarta Catarata - assim como milhares de sítios arqueológicos ainda inexplorados. Nos últimos nove anos, os arqueólogos acorreram desesperados à região, realizando escavações a toque de caixa antes que outro repositório de história núbia tenha o mesmo destino da Atlântida.
O mundo da antiguidade não conhecia o racismo. Na época em que Piye realizou sua histórica conquista, o fato de sua pele ser escura era irrelevante. Obras de arte da Antiguidade - do Egito, da Grécia ou de Roma - revelam clara percepção das características raciais e dos tons de pele, mas há poucos indícios de que a cútis mais escura era vista como sinal de inferioridade.
Somente quando as potências coloniais ocuparam a África, no século 19, os estudiosos ocidentais passaram a atribuir importância, de modo pejorativo, à cor dos núbios.
Exploradores que alcançaram o trecho central do rio Nilo relataram entusiasmados a descoberta de templos e pirâmides elegantes - as ruínas da antiga civilização de Cuch. Alguns, como o médico italiano Giuseppe Ferlini - que demoliu o topo de pelo menos uma pirâmide núbia, levando outros a fazer o mesmo -, eram movidos pela esperança de achar tesouros. O arqueólogo prussiano Richard Lepsius tinha intenções mais sérias, mas também provocou danos ao concluir que os cuchitas "pertenciam à raça caucasiana".
Até mesmo o famoso egiptólogo de Harvard George Reisner - cujas descobertas no período entre 1916 e 1919 proporcionaram os primeiros indícios de que soberanos núbios haviam governado o Egito - maculou os próprios achados ao insistir que os africanos negros jamais poderiam ter construído aqueles monumentos que estava trazendo à luz. Os reis núbios, incluindo Piye, seriam líbios-egípcios de pele clara que tinham como súditos os africanos negros primitivos. O fato de seu período de grandeza ter sido tão passageiro, sugeriu ele, devia ser conseqüência dos casamentos que esses mesmos líderes realizaram com "elementos negróides".
Ao longo das décadas, muitos historiadores permaneceram indecisos: os faraós cuchitas eram tanto "brancos" e bem-sucedidos como "negros", e sua civilização não passava de uma versão piorada da legítima cultura egípcia. Em um livro publicado em 1942, When Egypt Ruled the East ("Quando o Egito dominou o Oriente"), os egiptólogos Keith Seele e George Steindorff resumiram a dinastia dos faraós núbios e os triunfos de Piye em apenas três frases. A última delas dizia: "Mas esse domínio não durou muito".
A negligência em relação à história núbia refletia não só a tendenciosa visão de mundo da época como também uma fascinação pouco crítica pelas realizações egípcias - e uma ignorância absoluta do passado da África. "Quando fui pela primeira vez ao Sudão", recorda o arqueólogo suíço Charles Bonnet, "as pessoas comentaram: 'Mas você é louco! Não há nada de interesse histórico ali! Está tudo no Egito!' "
Isso ocorreu há apenas 44 anos. Foram os artefatos recuperados durante a construção da usina de Assuã, nos anos 1960, que começaram a mudar essa visão. Em 2003, décadas de escavações realizadas por Charles Bonnet nas cercanias da Terceira Catarata do Nilo, no povoado abandonado de Kerma, obtiveram reconhecimento internacional com a descoberta de sete grandes estátuas de pedra representando faraós núbios. Muito antes disso, contudo, os esforços de Bonnet haviam revelado um centro urbano mais antigo, densamente povoado, que controlava campos férteis e imensos rebanhos e que durante muito tempo prosperou com o comércio de ouro, ébano e marfim. "Era um reino separado do Egito, e original, com técnicas próprias de construção e costumes funerários", diz Bonnet. Essa poderosa dinastia surgiu durante a decadência do Médio Império do Egito, por volta de 1785 a.C. E, em 1500 a.C., o Império Núbio havia empurrado suas fronteiras para um ponto entre a Segunda e a Quinta Cataratas.
O retorno a essa era dourada no deserto africano pouco contribui em favor da campanha dos egiptólogos afrocêntricos para quem todos os antigos egípcios, de Tutankhamon a Cleópatra, eram negros. Mesmo assim, a saga dos núbios comprova que uma civilização do interior da África não só prosperou mas também, ainda que por pouco tempo, foi predominante, mesclando-se e por vezes casando-se com seus vizinhos egípcios ao norte. (A própria avó de Tutankhamon, a rainha Tiye da 18a dinastia, é considerada por alguns como descendente de núbios.)
Os egípcios não viam com bons olhos a existência de um vizinho tão poderoso ao sul, sobretudo porque dependiam das minas de ouro da Núbia como fonte de financiamento de seu domínio no Oriente Próximo. Por isso, os faraós da 18a dinastia (1539-1292 a.C.) mobilizaram seus exércitos para conquistar a Núbia e erguer guarnições militares ao longo do Nilo. Nomearam chefes locais como administradores e permitiram que os filhos dos núbios mais favorecidos estudassem em Tebas. Subjugada, a elite núbia adotou os costumes culturais e espirituais do Egito - adorando suas divindades, em especial Amon, comunicando-se na língua de seus conquistadores, adotando práticas funerárias e, mais tarde, a própria construção de pirâmides. Pode-se dizer que os núbios foram o primeiro povo a ser tomado por uma onda de "egitomania".
Os egiptólogos do fim do século 19 e início do 20 interpretaram isso como sinal de fraqueza. Mas estavam equivocados: os núbios tinham talento para interpretar as tendências geopolíticas. No fim do século 8 a.C., o Egito estava dilacerado por facções, com a região sob o controle de chefes líbios. Uma vez consolidadas no poder, tais facções começavam a desestimular a devoção a Amon, e os sacerdotes de Karnak passaram a temer por um futuro ímpio. Quem tinha condições para fazer com que o Egito recuperasse seu estado anterior de poderio e santidade?
Olhando para o sul, os sacerdotes egípcios encontraram a resposta - um povo que, sem jamais ter cruzado suas fronteiras, havia conservado as tradições espirituais do Egito. Naquela altura, como diz o arqueólogo Timothy Kendall, os núbios haviam se tornado "mais católicos que o papa". Sob o domínio Núbio, o Egito voltou a ser Egito. Quando Piye morreu, em 715, seu irmão Shabaka consolidou a 25a dinastia ao estabelecer-se na capital egípcia de Mênfis. Assim como o irmão, Shabaka identificava-se com as antigas práticas faraônicas, adotando como soberano o nome do faraó Pepi II, da 6a dinastia, tal como Piye adotara o de Tutmés III. E, em vez de mandar executar seus inimigos, Shabaka colocou-os para construir diques que protegessem as aldeias egípcias das inundações do Nilo. Tebas e o templo de Luxor ganharam novos projetos arquitetônicos. Em Karnak, o faraó erigiu uma estátua de granito rosado de si mesmo envergando a coroa cuchita com o duplo uraeus - as serpentes que indicam sua legitimidade de Senhor das Duas Terras, o Baixo e o Alto Egito. Shabaka deixou claro aos egípcios que os núbios não tinham a menor intenção de ir embora.
A leste, os assírios estavam consolidando seu próprio império. Em 701 a.C., quando suas tropas marcharam sobre a Judéia, no atual território de Israel, os núbios decidiram conter aquele avanço. Os dois exércitos chocaram-se na cidade de Eltekeh. E, embora o imperador assírio, Senaqueribe, tivesse se vangloriado da vitória, um jovem príncipe núbio, com cerca de 20 anos, filho do faraó Piye, sobreviveu. O fato de que os assírios, que costumavam não poupar nenhum de seus inimigos, terem deixado escapar o príncipe indica que talvez a vitória não tenha sido total. Seja como for, quando os assírios deixaram Eltekeh e se concentraram diante das portas de Jerusalém, o líder da cidade, Ezequias, contava com a ajuda de seus aliados egípcios. Cientes disso, os assírios não puderam conter a provocação, imortalizada no Livro II de Reis, do Antigo Testamento: "Confias no apoio do Egito, esse caniço quebrado, que penetra e fura a mão de quem nele se apóia; pois não passa disso o Faraó, rei do Egito, para todos os que nele confiam" (18:21).
Em seguida, de acordo com a Bíblia, ocorreu um milagre: as tropas assírias recuaram. Teriam sido assoladas por alguma peste? Ou, como sugere Henry Aubin em um livro polêmico, The Rescue of Jerusalem ("O resgate de Jerusalém"), os assírios se afastaram ao ter conhecimento de que o mencionado príncipe núbio avançava sobre Jerusalém? Tudo o que sabemos é que Senaqueribe desistiu do cerco e retornou em desgraça a seu reino, onde seria assassinado 18 anos depois, aparentemente pelos próprios filhos.
A libertação de Jerusalém não é apenas uma nota de rodapé da história, argumenta Aubin, mas um de seus principais acontecimentos. Ela permitiu que a sociedade hebréia e o judaísmo se consolidassem ao longo de outro século crucial - depois do qual o rei babilônio Nabucodonosor seria capaz de banir o povo hebreu, mas não de aniquilá-lo nem a sua fé. E depois do judaísmo surgiria o cristianismo e o islamismo. Jerusalém acabaria sendo representada, em todas as três maiores religiões monoteístas, como uma cidade de significado divino.
Em meio a esses majestosos eventos históricos, foi fácil deixar de lado a figura de pele escura à borda da paisagem: Taharqa, o filho de Piye.
Tão ampla foi a influência de Taharqa no Egito que até mesmo seus inimigos não conseguiram extirpar sua marca. Durante seu reinado, navegar rio abaixo pelo Nilo, de Napata a Tebas, era atravessar um mundo de maravilhas arquitetônicas. Em todo o Egito, ele construiu monumentos que exibiam seu semblante ou seu nome, muitos dos quais, hoje, repousam em museus.
A maioria das estátuas acabou desfigurada por seus rivais - o nariz destroçado o impediria de retornar da terra dos mortos. Igualmente destruídos estão os uraeus na testa, em repúdio à sua reivindicação de Senhor das Duas Terras.
O pai dele, Piye, resgatara, para o bem do Egito, os costumes faraônicos. Seu tio Shabaka consolidara a presença núbia em Mênfis e Tebas. Mas as ambições de ambos empalideciam diante das do comandante de 31 anos que foi alçado ao trono em Mênfis, em 690, e liderou os impérios do Egito e da Núbia nos 26 anos seguintes.
Taharqa ascendera em momento favorável à 25ª dinastia. Os chefes guerreiros do delta haviam sido subjugados. Os assírios, após o humilhante confronto em Jerusalém, não queriam ter nada a ver com o soberano núbio. O Egito era dele e de ninguém mais. Além da paz, os deuses também lhe concederam a prosperidade. Durante o sexto ano em que estava no poder, o Nilo encheu-se com as chuvas, transbordando pelas várzeas circundantes e proporcionando espetacular colheita de cereais. A cheia conseguiu até mesmo acabar com os ratos e as serpentes. Não havia a menor dúvida de que o adorado Amon sorria para seu eleito.
Taharqa não se contentou com isso. Por isso lançou o mais ousado programa de obras civis jamais iniciado por nenhum faraó desde o Novo Império (por volta de 1500 a.C.). As capitais sagradas de Tebas e Napata foram os alvos principais da atenção de Taharqa. Hoje, em meio aos restos confusos do complexo de Karnak, perto de Tebas, vê-se uma coluna solitária com 19 metros de altura. Havia dez desses pilares, formando um pavilhão que o faraó núbio adicionou ao templo de Amon. Ele também mandou construir várias capelas ao redor do templo e erigiu estátuas de si mesmo e de sua amada mãe, Abar. Sem desfigurar nem um único monumento preexistente,
Taharqa deixou sua marca em Tebas.
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Em Jebel Barkal, Taharqa construiu um templo dedicado à deusa Mut, a consorte de Amon ? parte de um majestoso programa de obras em todo o seu império, que se estendia do norte do Egito à Núbia.
Ele fez o mesmo centenas de quilômetros rio acima, na cidade núbia de Napata. O monte sagrado Jebel Barkal havia cativado até mesmo os faraós egípcios do Novo Império, que consideravam o local como a terra natal de Amon. Apresentando-se como herdeiro dos faraós do Novo Império, Taharqa construiu dois templos no sopé do morro, em honra da divina consorte de Amon. No pináculo de Jebel Barkal - recoberto em parte com folhas de ouro -, o faraó negro ordenou que fosse inscrito seu nome.
Por volta do 15º ano de governo, em meio à grandiosa consolidação de seu império, é possível que o sucesso tenha subido à cabeça do soberano núbio. "Taharqa estava à frente de uma das principais potências da época", avalia Charles Bonnet. "Acho que se imaginava o rei do mundo e acabou por virar um pouco megalomaníaco."
No litoral do Líbano, os mercadores de madeira vinham alimentando o apetite arquitetônico de Taharqa com suprimento de zimbro e cedro. Quando Esarhaddon, o rei da Assíria, tentou fechar essa artéria comercial, Taharqa enviou tropas para reforçar um levante contra os assírios. Esarhaddon esmagou a revolta e reagiu invadindo o Egito em 674 a.C. Mas o exército de Taharqa conseguiu expulsar os assírios.
Outros estados rebeldes na orla do Mediterrâneo se colocaram ao lado do faraó núbio e formaram uma aliança contra Esarhaddon. Em 671 a.C., os assírios avançaram com seus camelos pelo deserto do Sinai a fim de sufocar a rebelião. E logo tiveram êxito. Esarhaddon ordenou que suas tropas seguissem em direção ao delta do Nilo.
Taharqa e seus homens enfrentaram os assírios. Durante 15 dias travaram batalhas campais sanguinolentas. Mas os núbios se viram forçados a recuar até Mênfis. Ferido cinco vezes, Taharqa escapou com vida e abandonou Mênfis. Seguindo a tradição assíria, Esarhaddon massacrou os moradores e "erigiu montes com suas cabeças". E encomendou uma estela mostrando o filho de Taharqa, Ushankhuru, ajoelhado diante do assírio com uma corda em torno do pescoço.
Taharqa terminou vivendo mais que o vitorioso Esarhaddon. Em 669 a.C., este morreu quando se dirigia ao Egito, depois de saber que o núbio retomara Mênfis. Comandados por novo soberano, os assírios voltaram a investir contra a cidade, dessa vez com um exército reforçado por tropas rebeldes cativas. Taharqa não tinha como vencer. Acabou voltando para o sul, refugiando-se em Napata e jamais pisando de novo no Egito.
Uma medida do prestígio de Taharqa na Núbia é que ele reteve o poder mesmo após ter sido por duas vezes expulso de Mênfis. O modo como passou seus últimos anos é um mistério - com exceção de um derradeiro ato inovador. Tal como seu pai Piye, Taharqa quis ser sepultado em uma pirâmide. No entanto, desprezou o cemitério real em El Kurru, onde jaziam todos os faraós cuchitas anteriores. Em vez disso, escolheu um lugar em Nuri, na margem oposta do Nilo. Talvez, como sugeriu o arqueólogo Timothy Kendall, Taharqa tenha preferido o local porque, desde a perspectiva de Jebel Barkal, sua pirâmide está precisamente alinhada com o nascer do Sol no dia de ano-novo no Antigo Egito, vinculando-o para sempre ao conceito de renascimento egípcio. O mais provável, contudo, é que os motivos do líder núbio continuem mergulhados na obscuridade, tal como a história de seu povo.

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